terça-feira, 6 de abril de 2010

Na Cruz das Almas

Com o calor da Bahia, continuamos a saga pelo último estado. Estamos agora em Cruz das Almas, uma cidade do interior muito aconchegante apesar do calor. A pousada do Sol com seu aspecto rústico, com varanda com redes, um ambiente muito tranquilo e gostoso. O dia de chegada foi para descansar e alguns para conhecer a cidade.

Dia de apresentação, 06 de abril na Praça Multiuso, chegamos às 15:30 para montagem e se organizar para apresentação às 19:30. O dia estava maravilhoso, sol, sem nuvens de chuva e correu tudo bem na montagem. Alguns perguntando até que dia a feira ia ficar, se havia DVD e se até tatuagem de Henna fazíamos. É cada pergunta! Mas aí já aproveitávamos para convidar todos para assistir a Farsa mais tarde.

Começamos a nos maquiar, a se arrumar para o espetáculo. Começamos na hora. O público não era dos maiores, mas foi aumentando com o passar do tempo com o interesse das pessoas que iam passando e parando para ver o que estava acontecendo na Praça. O público era especial, um grupo de idosas de uma associação estava toda lá compartilhando e dando pitacos de o quê os personagens tinham que fazer. Muito engraçado.

A Farsa esse dia estava com pique, ritmo e energia. Apesar de vermos em todos semblantes cansados da viagem, como o Juju (Janielson – operador de luz) descansando na mesa de luz. Normal, na penúltima cidade não tem como negar o cansaço de tantos dias de trabalho.

O chapéu não foi lá essas coisas, mas o debate foi muito animado com a participação das senhoras mais animadas da platéia.

Arrumamos tudo, colocamos no nosso ônibus vermelho e vamos para a última cidade, SALVADOR!!

p.s.: Hoje é aniversário do Neto, o motorista! Parabéns!!!

domingo, 4 de abril de 2010

Chegamos à Bahia!

No último estado da turnê, finalizando um projeto e tanto. Fomos para Bahia com uma dor no peito com a ida da nossa Chris. É de fato muito doloroso ver quem fez tudo isso acontecer ir deixando um espaço vazio. Mas, agora é terminar com toda a força como é desde o início.

Chegamos sábado no início da tarde em Feira de Santana, cidade com poucos movimentos por conta da semana santa. Domingo, dia de apresentação, como de rotina chegamos no espaço de apresentação, Espaço Cultural Marcus Morais, às 14:30h já que a apresentação eram as 18h.

Na praça havia outro evento, um desfile de alguma coisa, mas acabou cedo. Não havia muito movimento, apenas algumas pessoas andando de bicicleta, skate, crianças jogando bola, um típico domingo de feriado. A arrumação foi tranquila, apesar do sol forte em nossas cabeças, mas foi tudo rápido e fomos nos arrumar para mais tarde.

O ponto de apoio foi no próprio hotel, já que a praça ficava uma rua de distância. Cada um se maquiou e se vestiu em seus quartos, o aquecimento aconteceu do lado de fora do hotel minutos antes da apresentação.

A apresentação não teve grandes atrasos. O público não era imenso, mas tinha pessoas interessadas, gringos e sempre os passantes por ali. Começamos o espetáculo, de primeira teve um atrapalhado para ligar a caixa de som, mas logo fizemos tumulto até ser ligado, começamos agora de fato com a música tema. O extintor travado deixou todos no vácuo, mas isso não influenciou muita coisa, temos que lidar com os imprevistos de última hora. Na minha percepção achei o primeiro ato lento, um pouco demorado do que de costume, achei também o público um pouco distante no início. O que também tornou a apresentação desde o começo mais difícil foi as interferências sonoras, pois a praça se localizava entre duas avenidas muito movimentadas.

O segundo ato já veio com mais força e conseguimos recuperar um pouco o ritmo, e finalizamos ele com pique e com risos de todos. Passamos para o terceiro ato que foi rápido e conseguimos terminar o espetáculo muito bem. Lógico que a apresentação de ontem teve várias ondas, mas não foi ruim.

O debate aconteceu com perguntas corriqueiras e todos encantados com a Farsa, terminamos de arrumar as coisas rápido e prontos para a penúltima cidade, Cruz das Almas.


E está indo rápido para o fim.
Ficam também as saudades dos olhos azuis da Chris.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

4X1 + dia de festa do teatro nordestino!!!!

Essa é minha ultima semana no projeto. Infelizmente, não poderei acompanhar o grupo na Bahia. Minhas férias na universidade terminam esse final de semana e segunda-feira, já tenho que estar de volta para assumir as aulas de Interpretação e as funções na Coordenação de Cultura da UNIRIO. Adoro dar aulas e sou apaixonada pela UNIRIO desde que entrei lá como aluna aos 17 anos de idade. No entanto, deixar o Ser Tão dói fundo no coração. Passei a semana inteira mexida, reflexiva, tentando me acostumar com a idéia de ir embora e tentando re-significar essa despedida. Viajar sempre mexe muito com a gente. Viajar em um projeto assim mexe ainda mais. Pensar quantos desafios o grupo tem pela frente e saber que não vou estar com eles é sofrido. Em menos de um mês, temos a produção da II Mostra de Teatro de Grupo, projeto que idealizei em 2008 e do qual tanto me orgulho. Desta vez, o grupo convidado é o querido Bagaceira de Fortaleza(CE), que vem com quatro espetáculos do repertorio, duas oficinas, mesas redondas e bate papo. E, claro, aquele astral divertido deles. Logo em seguida, temos o Fenart, as apresentações e oficinas do FMC, o caderno de apontamentos para ser publicado, a turnê com “Vereda da Salvação” por nove cidades através do edital BR de Cultura, e o maior desafio de todos, a nova montagem do grupo – o Coronel de Macambira, de Joaquim Cardozo – outro espetáculo de rua.

Bom para eles, que tem uma agenda repleta. E assim, na marra, vão amadurecendo!

A parada em Sergipe foi um grande alivio para todos. Foram sete dias em um mesmo hotel. Já estávamos todos exaustos de tanta mudança de quarto, do eterno sobe e desce das malas pesadas, da confusão com tantos números diferentes na cabeça se misturando.

Em Sergipe, Galego foi o produtor local, e teve a feliz idéia de deixar o grupo a semana toda em uma confortável pousada perto da praia para cumprir o calendário de uma apresentação em Laranjeiras, uma em São Cristovão, e duas em Aracaju. Semana Santa. Época difícil. Muita gente viajando, e um pouco de ansiedade da nossa parte de ter um dos membros do grupo na responsabilidade da produção local.

Mas a parada na pousada ajudou e o clima foi ótimo. Cada um fez seu horário, saiu, dormiu, descansou e o grupo se dividiu. O lugar agradável fez a gente esquecer o trauma da péssima hospedagem de Arapiraca (que nos obrigou inclusive a mudar de hotel no terceiro dia, pois os quartos não tinham nem portas nos banheiros... e, ainda assim, muitos nem banheiro tinham!)

Sábado foi dia de chegada e descanso.

Domingo: Dia de apresentação em Laranjeiras, uma cidade histórica a 30 km de Aracaju. Sede do novo curso de Teatro da Universidade Federal do Sergipe. Dia de procissão na igreja. O acordo feito com o padre era o de que começaríamos a peça logo após a missa. Impactante ver a chegada daquela procissão, com todos sacudindo seus ramos e entoando cantorias, acompanhado do órgão da igreja ( tipo único no Brasil), microfonado para toda a praça. Juro que pensei comigo: “É hoje que a gente se lasca! Esse povo vai botar a gente pra fora daqui correndo!” O Neto (motorista) pensou a mesma coisa, pois chegou no meu ouvido e disse: “ Você alguma vez já correu 30 km?” Logo pra quem...fiquei olhando para a cara dele com espanto. E ele finalizou: “Porque quando expulsarem a gente daqui eu me mando com o ônibus, e vocês que voltem a pé para Aracaju!”

Fernando estará de volta amanhã após sete dias de ausência, enquanto era debatedor e oficineiro da II Mostra de Teatro do SESI, em Alagoas. Bom! Assim eu posso relaxar mais e deixar o trabalho pesado para “os garotos”.

Acabada a missa, estávamos lá prontos para mais uma apresentação. Ponto de apoio perto, ajuda da prefeitura, praça lotada e, mais uma vez (já tá virando moda!) a chuva nos pega no inicio da terceira cena da peça. Imagem para ficar gravada na memória. Aqueles guarda-chuvas se abrindo, sabe-se de lá de onde eles surgiram, e eram tantos! Aquela platéia toda abrigada em baixo das sombrinhas. Mas nós não tínhamos guarda-chuvas. E a chuva apertou, e para a peça, espera a chuva passar, volta a peça. Uma pena! Pois dessa vez a volta foi mais difícil. Os atores entraram frios e custaram a recuperar o ritmo do espetáculo. E assim foi. Um pouco sofrido. Ainda não foi dessa vez que repetimos a qualidade da apresentação de Maceió, mas seguramos até o fim. A resposta da platéia é sempre calorosa. O que é um pouco preocupante. Todos já perceberam que a peça funciona mesmo quando não estão no seu melhor. O debate tinha alguns alunos do curso da UFSE e o papo foi curto por causa da chuva que voltou, porém, interessante e proveitoso.

Segunda Feira: Dia de folga. Cada um foi para um canto. Afinal, a gente está precisando mesmo se separar um pouco! Galego enrolado que só com milhões de coisas para resolver da produção de São Cristovão. Neto foi comprar maquiagem, Isadora resolver figurino, Calina correr atrás da divulgação na imprensa. E eu fui fazer uma coisa que não fazia há tempos! Fui ao cinema. Fui sem muita fé, descrente da programação local, mas acabei dando uma sorte danada. Peguei a única sessão do filme “Fita Branca”, vencedor de Cannes, um filme intrigante em preto e branco, que abre uma serie de questões na cabeça da gente, e não se preocupa em fechar nenhuma. Não que isso seja um problema. Pelo contrário. Você sai do cinema agitada, inquieta, pensando no filme, e querendo conversar. Apesar de não tocar em nenhum momento no nazismo, o filme nos faz pensar o tempo inteiro: “Ahhh, então foi essa a geração que alguns anos depois sustentou Hitler e suas teorias esquizofrênicas!”

Passar o dia sozinha foi ótimo! Além do mais nesses tempos que minha cabeça não para de azucrinar. Restaurante japonês, e depois uma passagem pela livraria da qual sai com uma leitura rasa, uma média e uma profunda para ajudar nessa fase de confusão mental.

Terça- feira: apresentação em São Cristovão. Dia lindo. Cidade linda. A quarta mais antiga do Brasil. Prestes a se tornar patrimônio da humanidade. Aquelas ladeiras, com suas ruas estreitas, as várias igrejas, as casas antigas e tudo tão bem conservado! Um lugarzinho diferente e especial. Conheci a secretaria de cultura de São Cristovão, Profa Aglaé, aposentada da UFSE, e conhecida e respeitada pelo trabalho que desenvolve há anos na cultura sergipana.

Como tudo estava em ordem, me dei ao luxo de passar parte da tarde sentada em um restaurante lendo as cem primeiras paginas de um dos livros que comprei. O “Clube do Filme” de David Gilmour. A história de um pai que, sem saber o que fazer com o filho adolescente que não consegue se adaptar ao colégio acaba propondo-lhe que largue a escola, desde que se comprometa a assistir com ele a três filmes por semana. E assim, ele vai, ao longo do livro, relatando sua tentativa de buscar uma educação não formal para o filho rebelde em plena crise de adolescência, a partir das lições que tira dos filmes que marcaram sua vida.

Quando retornei a praça, já era perto das sete horas e o povo começava a chegar. E, mais uma vez, foi surgindo gente de todos os lados até se fechar a grande roda com o povo se espremendo e subindo nas cadeiras para ver melhor o espetáculo. Esqueci de perguntar ao instituto Data- Japa a estimativa de publico para aquele dia, mas imagino que foi algo em torno de 500 pessoas ocupando aquela bela praça antiga. Noite linda, lua quase cheia e, finalmente, uma apresentação de encher os olhos. Ritmo, energia, constância, tônus, vigor e o publico se esbaldando de rir, completamente entregue a peça. Depoimentos calorosos no debate e contato com os grupos e com os artistas locais completaram a noite de uma das melhores apresentações que fizemos.

E chegou a quarta-feira: dia de folga. E que folga! Na verdade, o mais correto seria dizer: dia de festa do teatro nordestino!!! O fato é que depois de algumas tentativas frustradas de fazer contato com o pessoal do Imbuaça, finalmente, Lindolfo retornou a ligação de Renata Kaiser, e combinamos um encontro entre os três grupos. Eles estariam apresentando naquela noite na praça do Alto da Colina do Mateus a peça “O Mundo Tá Virado”, e estavam nos convindo para assistir ao espetáculo e depois fazer uma visita a sede deles que fica bem próximo do local da apresentação. Nós do Ser Tão, passamos o dia juntos na praia, já meio no clima de despedida, e eu mesma só sai do mar às seis horas da tarde, quando já estava escuro, para enfrentarmos uma correria danada para tomar banho, pegar um taxi e chegar a tempo na praça. A peça foi dedicada aos dois grupos: Ser Tão e Clowns e para nós foi um presente estar e ver um grupo tão conceituado, tão respeitado, provavelmente o grupo mais antigo em atividade no nordeste (e um dos mais antigos do Brasil), além de um ícone do teatro de rua brasileiro. Peça bonita, com ritmo, vigor e energia. Direção de Iradilson Bispo e com os outros três integrantes do grupo Lindolfo Amaral, Isabel Santos e Manoel Cerqueira em cena, acompanhados de vários outros atores convidados. E para completar a reunião de personalidades do teatro nordestino, contamos também com a presença de João Marcelino, que está em Aracaju para dirigir o novo espetáculo do grupo.

Eu, que ouço falar desse povo há mais de dez anos, mas ainda não os conhecia, fiquei que nem pinto molhado na chuva. Como é bom descobrir esses focos de resistência! Essa gente que fez e faz a historia do teatro contemporâneo no nosso país. E que receptividade eles guardavam para gente! Uma baita cervejada (com direito a whisky e tudo) na sede do grupo que foi tomada por posse há 18 anos atrás, e foi toda restaurada e conservada ao longo desses anos, com o dinheiro do caixa do grupo. E foi festa, viu!!!! Ser Tão (PB), Clowns (RN) e Imbuaça (SE) numa noitada de música, bate papo, teatro, e cerveja! Historias e mais histórias, encontros, coincidências, referências em comum....e, assim, fomos nos conhecendo. Festa que acabou depois das três da manhã, numa dança coletiva, e com um brinde mais que merecido de vida longa a esse que é um dos grupos mais respeitados do Brasil. Tomara que esse tenha sido apenas o primeiro de uma série de encontros.

Enfim: folga boa e histórica! Registrada pelas lentes atentas (mas aquela altura já meio embaçadas) do Cuca - nosso fotógrafo.

Quinta-feira: Mas agora chegou a nossa vez. Dia de apresentação em Aracaju. Galego as voltas com os imprevistos, uma peixada no almoço para dar ânimo ao povo, e saída às quatro horas da tarde para a Praça de Eventos da Orla, na Praia de Atalaia. Eu, mais uma vez, cheguei mais tarde, pois estou de partida amanhã e quero ver o grupo se virando sozinho. O que eles fazem muito bem, diga-se de passagem. Bom para eles e bom pra mim, que vou embora mais tranqüila. A fase pior para mim já passou. Foi a preparação para a despedida. Agora, é só uma questão de fechar as malas, ir embora e desejar toda a sorte do mundo para eles na Bahia, e nos projetos que estão por vir.

A orla de Aracaju é agradabilíssima e fora aqueles pepinos de sempre que fazem parte do processo, tudo correu na maior tranqüilidade. Duas TVs vieram fazer a cobertura, o publico (que tanto nos preocupava por ser Semana Santa) chegou em peso, e mais uma vez, tínhamos mais de 500 pessoas reunidas formando uma grande roda. Com uma lua cheia maravilhosa ao fundo e vários convidados especiais: a família e os amigos do Galego, amigos dos atores que moram ou estão por aqui, artistas dos vários grupos da cidade, e todo o elenco do Imbuaça, que cancelou o ensaio no dia para nos prestigiar.

E foi mais uma ótima apresentação. Tomamos um susto com Suellen, que passou o dia com uma tremenda crise de enxaqueca, mas que segurou firme até o final da peça, para então cair aos prantos e ir direto para o posto de saúde para ser medicada. Felizmente, foi só um susto e ela já está bem. São cinco e meia da manhã e alguns resistentes ainda estão em um luau na praia aqui na frente, misturados ao povo que conhecemos na sede do Imbuaça, e aqueles agregados que sempre aparecem, sabe-se lá de onde. E eu estou aqui postando esse testamento que é minha forma de me despedir. Coisas de quem está partindo... misturado, é claro, a um pouco de velhice, e uma falta de resistência e de saco para tanta festa!

Amanhã, é nossa ultima apresentação em Sergipe, mais uma vez na orla, já que pelo fato de ser feriado seria uma loucura tentarmos apresentar no centro da cidade que está totalmente deserto esses dias. E, na madrugada, eu parto para o aeroporto. E o presente tão intenso, começa a ganhar ares de passado, e em breve todo o cansaço ou desconforto da turnê, das pessoas, do excesso de agitação, vai começar a se transformar em saudade, saudade de uma experiência tão rica e tão forte. Que vai deixar marcas. Viva a Eletrobras! Viva a Funarte! Viva os nossos parceiros! Viva os Clowns! E principalmente, Viva o Ser Tão!!! Que apesar de novo, deu conta do recado, e já deixou marcado seu nome na historia do teatro nordestino.

E que a melancolia tome conta por mais um tempo até que, do nada, as imagens da próxima peça comecem a surgir, e tudo seja novo de novo!

Christina Streva

Partindo.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Finalmente, nas águas do Velho Chico!

Traipu, interior de Alagoas. Penúltima apresentação do projeto Eletrobrás. Como a cidade não tem hospedagem, fomos obrigados a ficar em um hotel em Arapiraca e viajarmos para o vilarejo apenas para apresentar. A prefeitura nos fez um convite para passarmos o dia na cidade e fazermos um passeio de barco pela manhã. Decisão difícil. Meio de turnê, todo mundo cansado, dia de trabalho, viagem de ida e volta no mesmo dia... Consultei o grupo e todos optaram por ir. Apenas Renata ficaria para resolver pendências de produção em outras cidades.
Sendo assim, resolvemos partir bem cedo. Não tão cedo quanto esperávamos, pois nosso super busão nos deixou na mão pela primeira vez com a bateria arriada. Providenciada a chupeta e, com quase uma hora de atraso, estávamos lá de novo dentro dele já firme e forte para carregar a trupe e a tralha.
Na chegada a Trapiu, uma surpresa: o vilarejo, sem sombra de duvida, é o mais pobre pelo o qual passamos. No entanto, é também o mais bonito. Uma comunidade ribeirinha sem qualquer atrativo a não ser uma linda paisagem as margens do Rio São Francisco, cercada de montanhas e colorida pelos vários barcos de pescadores ancorados na margem do rio. Crianças e idosos se banhavam enquanto as lavadeiras acompanhadas de suas bacias entregavam-se ao oficio. Alguns bares desativados e um circo caindo aos pedaços, atolado na lama, completavam o cenário.
A paisagem bucólica, a atmosfera tranqüila e, principalmente, a emoção de chegar ao Velho Chico foi mexendo com todos nós. Os rapazes e Isadora (é claro) foram logo escolhendo o melhor lugar de onde pular e, em minutos, já estavam mergulhados no rio. Enquanto os mais cautelosos (e medrosos) iam se chegando pela margem.
O barco da prefeitura que iria nos levar no passeio havia saído bem cedo e não tinha retornado ainda. Então, enquanto esperávamos, aproveitamos para comer um delicioso peixe frito (um dos melhores que eu já experimentei) no único bar aberto.
E foi nesse clima de cerveja e peixe frito que, de repente, fomos surpreendidos pelo barco, muito maior do que os outros que estavam ali, surgindo ao longo do rio, com um som altíssimo, tocando um forró pé de serra, que deixou meu povo louco. E se tem uma coisa que esse povo gosta é de festa. Pronto! Em minutos, estávamos todos na parte de cima do barco, cantando , dançando, bebendo, em uma catártica euforia coletiva. Quanto mais o barco avançava pelo rio, mas animado o povo ficava. E foi festa pesada! Pense um grupo enlouquecido de alegria, de euforia, de orgulho, de sensação de dever cumprido.
Eu, sentada sozinha na proa, pensava: em dois dias estaremos terminando o Programa Eletrobrás de Cultura. Levamos a peça a 15 cidades, de cinco estados, a um publico de mais de 8 mil pessoas (pelos cálculos do Instituto Data-Japa). Há um mês na estrada viajamos juntos, duas famílias, Ser Tão e Clowns, com suas afinidades e diferenças. Gente. Muita gente. Vinte pessoas. E todos os agregados que foram fazendo parte desta nossa história. Se, no inicio, a falta de experiência do Ser Tão e a ousadia do projeto, nos preocupava; se chegamos a nos perguntar inúmeras vezes se daríamos conta de tantos desafios, agora, a sensação é bem diferente. Já sabemos que damos conta. Não só de cumprir o projeto mas, mais do que isso, de fazê-lo bem feito. Temos ainda pela frente o Prêmio Artes Cênicas na Rua da Funarte, que estende o projeto para mais dois estados – Sergipe e Bahia – mas agora, já sabemos que vai dar certo. E só continuar trabalhando. Todos já conhecem suas funções, a rotina, e como a maquina deve funcionar. E ela vem funcionando muito bem. E ali, naquele rio, navegando pela artéria do Brasil e observando aquelas populações ribeirinhas, o que tomou conta de mim foi mesmo uma forte mistura de orgulho e de dever cumprido.
Em Traipu, tudo que escrevemos em nossos projetos, a cada edital - a vontade de levar a vivencia teatral as regiões pouco favorecidas, o desejo de contribuir para a democratização da cultura, de nos alimentarmos enquanto artistas brasileiros desse país tão rico e tão diverso - tudo ali se materializa, como num passe de mágica, em uma realidade forte, concreta e, acima de tudo, revolucionária.
O contato com esse Brasil ainda esquecido nos re-alimenta. E a ação teatral mostra sua verdadeira essência. Sem ser panfletária, ou partidária ela, ainda assim, é essencialmente revolucionaria. Quando invadimos um vilarejo pobre e desfavorecido como esse, esse Brasil esquecido, da pesca, do trabalho, e da missa; quando montando nossa barraca ali, sempre cercados pelas crianças da cidade, vamos aos poucos invertendo a lógica conhecida – a lógica da paixão de cristo, da missa, do rebolation. E, de repente, surge um Jesus camelô, cantando, dançando, fazendo piada, e até falando palavrão. Os santos viram palhaços e os demônios cabras e serpentes; e, pelo olhar hipnotizado do público, crianças e idosos, vamos percebendo que, mesmo que efemeramente, estamos apresentando um mundo novo. Ou melhor, talvez uma nova forma de ver aquele mesmo mundo de sempre.
Eram esses e vários outros pensamentos que não saiam da minha cabeça enquanto navegávamos ao longo do Velho Chico. E, talvez, por isso e por outras, nem ligamos quando a chuva nos pegou no meio do passeio. E veio forte, pesada, violenta, como são as forças da natureza. Mas, ninguém ligou. Continuamos ali, entregues a festa e aos pensamentos. E só paramos mesmo para mergulhar e nos jogarmos juntos na deliciosa e quente água do rio.
Momento mágico e catártico. Uma verdadeira lavagem d´alma. Merecida. A um grupo que vem trabalhando sem parar há mais de um mês na estrada.
Mas o passeio acabou, e a chuva não parou, e era hora de começar a arrumação para a peça. Eita! Pense outra decisão difícil. Arriscar montar no local pensado na rua, a beira do rio, e correr o risco da chuva não dar trégua, e sermos obrigados a cancelar a apresentação, ou garantir que a peça aconteceria, levando o espetáculo para dentro do ginásio da cidade. Duvida, duvida, duvida. Nosso ônibus não chegava ao ginásio por causa da lama, e o único jeito seria conseguirmos um caminhão da prefeitura que pudesse levar nossas coisas até lá. E o publico? Viria? Tendo que atravessar o lamaçal? Ouve opinião de um, de outro: grupo dividido. No final, pesou mesmo o medo de não conseguirmos apresentar naquele lugar tão especial, e acabei optando por garantir a apresentação mesmo que dentro do auditório.

Péssima escolha, diga-se de passagem. A apresentação foi muito prejudicada em um auditório enorme, sem iluminação adequada (pois ele não suportava nossa tralha e tivemos que adaptar a luz), e o resultado foi uma apresentação tecnicamente sofrida. Para nós, é claro, que já vimos outras bem melhores. Para o publico, não. Único. Lotado de crianças de todas as idades. Na grande maioria a primeira experiência teatral de todo aquele povo. Muitas crianças. Mas muitas crianças mesmo. E adultos e idosos também.
E mais uma vez, cumprimos nosso objetivo. Na maneira do possível. Dessa vez, porém, com um gosto mais especial. Gosto de um grupo que se sente feliz de estar fazendo o que faz: uma coisa boa para nós, para o teatro nordestino, e pelo povo sofrido desse nosso país!

Christina Streva

sábado, 20 de março de 2010

Isso sim é intervenção urbana!!!

Já me emocionei muitas vezes ao longo dessa turnê, mas a apresentação em Maceió teve algo de muito especial. Estávamos abrimos a II Mostra de Teatro do SESI e, desde a nossa chegada, a hospitalidade foi dez. Hotel bom, cama confortável, carne de sol deliciosa do Picuí, e o melhor chuveiro da turnê. A cidade, que eu não visitava há mais de dez anos, parecia mais bonita.

Fomos informados que uma parte da orla seria interditada no dia seguinte para a nossa apresentação. Confesso que, no cansaço da chegada, não dei a devida atenção a questão. Na tarde do dia seguinte, no entanto, fiquei foi meio constrangida. Quando vi aquela avenida tão movimentada sendo cruzada pelo nosso ônibus em plena luz do dia, às quatro horas da tarde, com a polícia interditando o transito, achei tudo um pouco exagerado. Para completar a nova paisagem, no mínimo inusitada, o ônibus-camarim do SESI – um ônibus especialmente produzido para servir de palco, camarim e transporte, uma verdadeira carroça moderna foi aberta em plena orla e serviu de apoio para os atores, a técnica, e ainda como suporte para os banners.

E nossa equipe começou a descarregar a tralha. Como de costume foram surgindo as estruturas, os carrinhos, a iluminação, as cadeiras...

Turistas, ambulantes, moradores e meninos de rua curiosos indagavam que show iria acontecer ali. E a gente, orgulhosamente, respondia: Não é show, não. É TEATRO!

E o publico foi chegando. Mais de meia hora antes do inicio da peça, as cadeiras já estavam todas tomadas. Aos poucos, a avenida foi se tornando um grande e belo palco com mais de quinhentas pessoas assistindo à peça. Bela apresentação do nosso elenco, diga-se de passagem. Nevinha cresce a cada apresentação. Encontrou seu corpo, descobriu os pulinhos, os ombros, ganhou ritmo, e encontrou sua graça. Dá orgulho de ver!

Ritmo bom, platéia animada.... até que a chuva chegou e, finalmente, fomos batizados!!! Pegos de surpresa, os corajosos atores ainda resistiram por alguns minutos, mas a chuva apertou, e não tínhamos outro jeito se não interromper a apresentação. E foi o que fizemos. No susto, correndo, tentando proteger o cenário e, especialmente, os instrumentos.

Mas em dez minutos a chuva passou. E para minha surpresa, o publico, continuava lá. Sem arredar pé, esperando a peça continuar. Emocionante. E, assim, em meio aos aplausos, nosso atores recomeçaram o espetáculo, ainda lotado de gente de todos os tipos.

O debate, que sempre ocorre após a peça, foi dentro do teatro do SESI e cheio de gente de teatro – grupos de teatro de rua, diretores, professores da universidade: um povo interessante e interessado, num bate papo de qualidade, enriquecedor para todos.

Marcante: a intervenção urbana, a insistência do publico, a entrega da platéia, a força dos atores.

Enquanto saíamos da cidade, eu pensava: e não é que vale um pouco de transtorno no transito de vez em quando para se assistir uma peça de teatro!

Christina Streva

quinta-feira, 18 de março de 2010

Dando continuidade a essa itinerância, fomos recebidos pelo produtor local Zaccaras em frente a pousada onde dormimos por uma noite. Como bem sabemos, algumas de nossas apresentações serão seguidas, e essa é uma delas. Ontem nos apresentamos em Recife e já chegamos em Limoeiro prontos para mais um descarregamento e montagem da Farsa.

A rua em frente a pousada foi fechada com o ônibus da circulação e o ponto de apoio para maquiagem e figurino ficou sendo a Rádio Difusora localizada em frente à rua.

Às quatro horas estávamos todos já preparados para dar início à primeira função de descarregamento, organização dos camarins e da cena, e por aí vai. Mais tarde, umas duas horas antes da peça, já começavam uns a se caracterizarem e outros ainda arrumando as suas respectivas estações. Enquanto isso, na rua um carro de som divulgando a Paixão de Cristo da cidade.

Sete e meia nos reunimos no pátio da pousada para o alongamento, para a concentração e para o aquecimento vocal coletivo e minutos antes de sair... cadê a espada do Miguel Arcanjo? Ficou no quarto! Corre pro quarto e... nada da porta abrir. Vamo assim mesmo!

Demos o play, e entramos rua adentro, chamando o povo que estava sentado na praça, o pessoal do lanche que estava por ali, as crianças que corriam de um lado para o outro, e foram todos se aproxegando às muitas pessoas que já estavam ali para assistir a peça. No primeiro contato percebo o quanto o povo é interativo e isso é bom. Muito burburinho em cena, dos atores e da platéia, claro, e está começando a Farsa da Boa Preguiça em Limoeiro.

Muita participação da platéia, podendo citar, por exemplo, quando o Joaquim solta um peido na cena em que Aderaldo tenta seduzir Nevinha, e um homem acende um fósforo para disfarçar o “cheiro”. Foi o primeiro aplauso em cena aberta da noite e a primeira vez que vimos um peido ser aplaudido em cena aberta. Peidos à parte, aplausos para a sacada do homem que acendeu o fósforo.

A peça transcorreu muito bem com uma interação do público muito grande realizando comentários, revelando coisas que os personagens ainda não sabiam que iria acontecer com a finalidade de ajudá-los, além das risadas extravagantes, dos ouvidos atentos. Enfim, Limoeiro, a meu ver foi uma apresentação bastante especial, pela particularidade do público que me parece ter se não o hábito, a curiosidade para a cultura.

Já no debate, o mais demorado até então, com muitas colocações sobre a peça e sobre a vida cultural da cidade, com a participação de todos os grupos de teatro, o secretário de cultura, uma professora que trouxe seus alunos e que no dia seguinte viria a perguntar aos alunos o que eles entenderam da peça para discutirem a sala de aula o que havia sido visto, estudantes de teatro e de música trazendo seus questionamentos e curiosidades.

Após esse debate super produtivo para ambos os lados, fomos comer, é claro, e para nossa surpresa, pois não esperávamos um banquete daqueles de lamber os beiços, dedos, garfos, fomos recebidos pela família que administra o Restaurante Limoeirense, conhecido por receber as mais célebres bandas de forró e que possui uma variedade de pratos que vai de um simples arroz, ao arroz de camarão e a um delicioso prato de bacalhau que todos ficamos loucos.

Evoé, Limoeiro!

quarta-feira, 17 de março de 2010

Recife

Continuamos na estrada, estamos em nossa décima apresentação e agora é a vez de Recife, a terra do Frevo e do Maracatu e o principal, é lá onde mora o autor da Farsa, o grande Ariano Suassuna.

O ônibus da circulação chegou com o pessoal dia 16/03 no Plaza Hotel, por voltas das 20h, depois que todos se acomodaram e jantaram, Christina, Calina e Neto foram fazer panfletagem no Recife Antigo.

No outro dia pela manhã Eu, Isadora e Suellen que curtimos a folga em João Pessoa chegamos no Recife, arrumamos nossas coisas e fomos almoçar e como é de costume, 4 horas antes do espetáculo começar, todos já se encontravam no local de apresentação para descarregar o ônibus e montar cenário no Pátio São Pedro. Lugar melhor na cidade para apresentação não havia, além da praça ser bem conhecida na cidade por evento culturais que acontecem lá como a Terça Negra, lá fica a Catedral de São Pedro dos Clérigos, que é tombada pelo Patrimônio Histórico Nacional, uma igreja linda e que nos fez entrar mais ainda no clima do peça, pois São Pedro, para quem não sabe, é um dos personagem do espetáculo.

Quando chegamos ao Pátio São Pedro descarregamos o ônibus, mas não começamos logo a montagem, pois pela primeira vez enfrentamos a tão temida (e prevista) chuva, pois sabíamos que em alguma cidade isso aconteceria e nada mais justo que a primeira vez fosse em frente a Igreja de São Pedro cumpriu bem o seu papel, passou o dia inteiro chovendo, com alguns intervalos de estiagem.

Atrasamos um pouco a apresentação porque só afinamos a luz quando a chuva deu uma trégua e mesmo assim em Recife tivemos um publico fiel. Durante toda a apresentação São Pedro deu uma segurada na chuva, no entanto, após uns 15 minutos de debate lá em a chuva mais uma vez e saímos nós e o público carregando às pressas o que dava pra salvar.

E foi assim nossa passagem por Recife, com a presença de um público fiel, que mesmo debaixo de chuva esperou o espetáculo começar e não podemos esquecer de São Pedro que cessou a chuva durante toda apresentação.

Agora é hora de pegar a estrada rumo a Limoeiro, nossa próxima parada.

segunda-feira, 15 de março de 2010

Eita que chegou a hora de Natal!

Farsa continua com sua peregrinação pelo nordeste, chegamos na cidade de Natal, a casa dos Clowns e também bastante familiar para nós do Ser Tão. Chegamos num domingo chuvoso na casa em Ponta Negra com descanso para a apresentação de segunda.

Segunda dia 15, nos encontramos às 14h para começar a arrumação de tudo para a apresentação às 19h30 na frente do Teatro Alberto Maranhão. Tudo indo muito bem, colocando as luzes, estruturas no lugar e nós meninas preparando as miudezas necessárias. Um dia especial também, a gravação da peça com microfones e câmeras para todos os lados.

Eu e a Maisa terminamos de arrumar os adereços e partimos juntos com outros para nos arrumar no camarim do teatro, nos espalhando pelo espaço, dividindo os espelhos e relaxando para mais uma.

Aí está a 9° apresentação, Farsa da Boa Preguiça em Natal, com todos os amigos dos Clowns a classe artística natalense, e todos os curiosos passantes pela praça. A peça começou animada, a todo vapor. Tudo em perfeita ordem, todos se jogando e fazendo bem seu papel. O público já preso por aquelas figuras populares, pelos acontecimentos que rondam toda a trama.

O primeiro ato se desenrolou rápido, as cenas bem executadas sem nenhum problema, com pique e alegria, o público muito participativo. O segundo ato começou com São Pedro todo animado com seu “Segura na mão de Deus” e como passou rápido este, Andreza entrou com sua língua enorme em cima de Simão e logo estava Clarabela dando a “massage” no Simão, entro em cena com Nevinha a vassouradas em cima de Simão. Logo já fomos para venda da cabra e o “Foideu” já tinha acontecido. Xibosclécio teve sua participação dando algo de valor para Catacão. E tudo se desenrola rapidamente com os risos de todos com a esperteza de Simão. Saem Nevinha e Simão apaixonados.

Terceiro ato entra em ação com a pantomima, e o desfecho parece ainda mais rápido, com os 20 anos passados. As cenas das diabas com seu funk animou a platéia e fez todos rirem das reboladas e línguas enormes. A cena dos celestiais aclamada como sempre depois de “Jesus Cristo” tendo seu momento tenso. Logo as diabas mandam Clarabela e Catacão para o inferno. A reza acontece fazendo com que todos do público dêem as mãos para salvar o casal perdido. E o fim se aproximou com o galope e os aplausos de todos.

O debate após a peça foi muito interessante, perguntas sobre cenário, sobre figurino, caracterização e até sobre a língua da Renata Kaiser foi comentada. Muitos elogios e muita merda para longa vida ao espetáculo.

Terminamos com a desmontagem com cada um na sua função, e menos uma.

Ah para constar o maior chapéu de todos vai para NATAL!!!

Agora Recife, será que vamos ter espectador especial?

3 x 1

Eita danado! Finalmente chegamos à terra do nosso monstro sagrado do teatro potiguar César Ferrário. Interior com cara de cidade grande, terra do sal e do petróleo. Repleta de lendas, uma que me contaram foi a de um tal CÉSAR (não o nosso) que insistia em ter relações amorosas com fuscas. É...cada qual com o cano de escape que deus lhe deu! Ficamos hospedados no maravilhoso hotel Thermas Resort de Mossoró, a equipe agradece imensamente esse dias de piscinas térmicas e excelente atendimento, afinal de contas nós merecemos. Mas como nem tudo são flores, tínhamos pela frente três apresentações seguidas. Uma na cidade de Mossoró em frente ao Teatro Municipal Dix-Huit na sexta feira. No sábado outra apresentação em Mossoró só que desta vez no Thermas Resort e a terceira apresentação na cidade de Assu. Tentarei fazer aqui um único depoimento dessa nossa experiência nessas duas cidades.
O descarregamento do ônibus foi feito como de costume pela equipe já pré estabelecida. Ao chegar no teatro meu queixo ficou no chão pela imponência e pela magnitude do prédio do teatro Municipal. Com apenas seis aninhos de vida, já respira como gente grande. Um teatro moderno, com capacidade para mais de 700 espectadores, lindo, um sonho... Mas um sonho para os outros, porque nosso sonho tava lá fora na praça, por sinal uma belíssima praça em formato circular, e com uma mandala feita de azulejos foscos. Os camarins foram nosso ponto de apoio. Lá nos organizamos e esperamos a hora do começo de mais um dia de celebração dionisíaca. Os grupos de teatro da cidade foram chegando aos poucos, A maioria já conhecido dos clowns, então podemos chamar isso de um reencontro.
A entrada das personagens em meio ao público já está mais orgânica. já sabemos que energia que precisamos jogar para o público. A apresentação cumpriu sua função. O debate teve a participação calorosa dos grupos de teatro de Mossoró, questões pertinentes as nossas idéias foram colocadas na roda. Construir relações com outros grupos, trocar experiências é aindaum dos pontos fortes dessa nossa trajetória. O Ser Tão agora criou uma mala direta, mas essa é DIRETA mesmo, pois em cada debate os participantes escrevem em uma pequena ficha distribuída por nossa produção seus dados para mantermos contato posterior, e enviarmos nosso informativo o SerTeiro. O estado de “jogo ganho” ainda prevalece em alguns de nós e eu me incluo também. Resultado disso foi à reunião que tivemos no dia seguinte para avaliação. Fernando deixou para o fim sua avaliação mais do que direta para o ator que vos escreve. Disse que eu perdi completamente toda minha construção da personagem que eu havia fazendo tão bem, e substitui por tentativas às vezes frustradas de arrancar riso da platéia gratuitamente. Disse que a essência da personagem havia ficado em algum lugar e que eu precisava resgatá-la. Essas palavras do Fernando mexeram muito comigo. Não pelo fato de levar um puxão de orelha, mas sim pelo fato de não manter a organicidade construída durante o processo de edificação da personagem. Eu precisava encontrar um outro caminho para crescer na trama. Não sei se depois dessa conversa, mas fui acometido por uma forte dor de cabeça que me impediu inclusive de participar da desmontagem do material para apresentação mais a noite. A nossa base nesse dia foi no próprio hotel. Saímos em passeata até o local de apresentação, que para nossa apreensão era um palco suspenso há dois metros do chão, sem retorno e nem acústica alguma, numa festa privada, e mais do que isso, trabalhamos pela primeira vez a frontalidade e a redução da cenografia. Mas para nosso alívio, Marco nos orientou no sentido de projeção vocal, para que não nos afobássemos para mantermos a mesma energia que emanamos quando estamos no chão e próximo ao público. Microfones de captação extremamente sensíveis foram colocados em pontos estratégicos e graças a Dionísio, todos que estavam presentes escutaram e acompanharam através de um telão todo o espetáculo. Cumprimos nossa apresentação com dignidade.
Mais um dia de luta, fomos direto para a cidade do Assu – RN, cidade essa mais do que perfeita para a trama de Ariano. Conhecida como a cidade dos poetas, e poetas esses que sofrem preconceito por serem poetas e são condecorados como preguiçosos e desocupados. Ta aí o ócio criador sendo corrompido pelas falhas convicções humanas. Fiquei literalmente envaidecido em ver o local que iríamos nos apresentar. Um anfiteatro belíssimo, de frente a igreja de São João Batista datada de 1780. Lembrava muito os grandes mercados medievo. Fomos recepcionados pelo secretário de cultura da cidade, que nos levou até o restaurante para almoçar. Uma comida caseira dos deuses nos deu força para o terceiro dia consecutivo de apresentações. Preparamos-nos no centro cultural ao lado da praça, Os Clowns mais uma vez reencontraram integrantes dos grupos de teatro local. Afinal, eles já haviam vindo outras vezes com outros espetáculos de seu repertório. A apresentação estava marcada para as 19 h, mas foi divulgado às 19h30min h, esperamos o público até as 19h45min h. Quando tomamos conta da praça. Os ambulantes se espalharam e buscaram pessoas que estavam dentro das casas, longe nos bares, e aos poucos o público foi se aglomerando, e ocupando toda aquela arena. No meu primeiro texto da peça, eu jurava que estava num teatro, de tão perfeita que era a acústica daquele espaço. A apresentação foi mais do que especial. Um grande círculo dionisíaco cercava a Farsa e emanava energia num ping pong alucinante.
O debate foi bastante caloroso, alguns artistas presentes, desabafaram suas angustias alegando falta de apoio do município para suas montagens. Quase que o debate se transforma num ring político. Que bom que isso aconteceu, que bom que de alguma forma despertamos algo que estava inquieto dentro deles.
Ufa... Hora de respirar um pouco, daqui vamos para Natal, a casa dos Clowns. Esperamos uma belíssima apresentação. E um chapéu feliz já que mainha, painho, filho, cunhado, vô, vó, amigos e agregados dos Clowns vão estar presentes.
Evoé minha gente!!

Netto Ribeiro
Circulando

quarta-feira, 10 de março de 2010

A cobra vai fumar!!!!!

Opa, Fernando! eu, tomei a responsabilidade e escrevi o relatório na sua ausência. Só demorei a postar por motivos técnicos.
Nossa segunda parada no estado do Ceará foi na lendária cidade de Cascavel, que segundo a lenda, uma grande cascavel mora no subsolo da cidade e seu tamanho aumenta a cada vez que alguém pronuncia o nome CASCAVEL, para quebrar a maldição, os mais religiosos pedem ajuda a São Bento, e toda vez que seu nome é pronunciado a grande cobra diminui de tamanho. São os encantos e peculiaridades que encontraremos daqui pra frente em nossa turnê pelo místico Nordeste.
Os nossos brilhantes técnicos foram fazer a costumeira vistoria na locação. Uma praça imensa em frente à matriz da cidade. Tivemos uma recepção mais do que calorosa. A representante da Ato Produções, nossa produção local no estado do Ceará, já havia preparado tudo para nossa estadia. Uma pousadinha familiar, sem maiores requintes, mas com uma comida e uma receptividade excelentes.
Tivemos a companhia do Prefeito e da primeira dama de Cascavel conosco no almoço de hoje. Apesar do atraso da equipe, tudo saiu como manda o figurino. Pela primeira vez o calor do Nordeste mostrou sua força. As 14 h nos encontramos para o descarregamento do material com uma temperatura de quase 45°c. Dia difícil para o trabalho braçal, mas com o empenho de todos e a logística criada pelo Fernando tudo foi feito na mais perfeita ordem.
Lá dentro, na caracterização, fomos agraciados pelos deliciosos e doces presentes do Thiago, nosso anjo da guarda nessa temporada em CASCAVEL (opa! a cobra cresceu!). Christina assumiu a direção técnica e passou as devidas instruções para o elenco. O Rafa por sua vez, nos fez Cia nos minutos que antecediam nossa apresentação. Sinal de OK, e lá se vãos os feirantes, carregando suas mercadorias, invadindo a praça em meio ao tumulto da multidão que cercava a arena. Ainda falta alguma coisa na nossa entrada, e acho que estamos descobrindo a cada apresentação. Eu particularmente já descobri que não são nem as cartas, e nem as previsões, típicas da minha personagem de feirante, que chamariam a atenção do público; e sim, uma abordagem mais intimista, como um grande negociador das famosas feiras de troca. A preocupação geral do elenco se destina a música de abertura da peça. Ouvidos, corpos e olhos abertos para a homogeneidade. E de repente um susto... O teclado parou de funcionar. Imediatamente toda a equipe se mobilizava para descobrir a falha, correria nos bastidores. Marco brilhantemente antecipa a entrada de Aderaldo na cena da Andreza e Nevinha e discretamente mexe na caixa amplificada, retorna para sua posição e saca de sua escaleta para maestrar a primeira cena de Joaquim Simão. Atenção quadruplicada de todo o elenco, primeiro para não puxar o foco para a falha técnica e segundo para não sair da energia do espetáculo. E quase como um sopro divino, tudo voltou a funcionar. Disparado, tivemos o público mais inquieto, e para completar a interferência sonora, um culto evangélico acontecia ao lado da apresentação. È minha gente, o teatro de rua é realmente uma prova de fogo para qualquer ator.
Terminada a apresentação. Levantamos barraca e deixamos tudo pronto para nossa ultima cidade no estado do Ceará; Fortaleza sempre foi um sonho em particular. Estou ansioso para conhecer o restante do Grupo Bagaceira, conhecer o teatro que vamos apresentar Vereda da Salvação em Setembro desse ano pelo BR Distribuidora e mais ansioso ainda para abrir a cidade de Fortaleza e trilhar mais uma estrada do Ser Tão.

Evoé minha gente!

Netto Ribeiro
Circulando

terça-feira, 9 de março de 2010

É rua que você quer? Então toma!

Dezoito!

Cascavel, como o Instituto DataJapaNostradamus já havia previsto, ficou sem registro. Ou seja, a dezenove ficou à ver navios... Enfim...

Bom, após participar da Pré-Conferência Setorial de Teatro em Brasília - importante momento da vida política teatral no país, talvez o início de uma revolução que está por vir! -, encontrei-me com o restante do grupo em Fortaleza. Chegando, recebi vastos relatórios de diversas fontes, tanto sobre os vários problemas da apresentação de Cascavel - teclado que deu pau, relaxamentos, etc. -, quanto das dificuldades que já estávamos enfrentando em Fortaleza. A apresentação na Praça do Ferreira, agitado pólo comercial do centro da cidade, em plena terça-feira, às 16h, era o primeira delas. Além disso, tivemos dificuldade de encontrar uma boa logística de descarregamento (que acabou acontecendo na véspera), assim como um local para guardar o material durante a noite. Por fim, a praça estava ocupada pela estrutura de um show que aconteceu ontem. Resumindo, situação nada favorável.

Aos poucos, fomos tentando resolver a situação, problema por problema, enquanto montávamos o cenário, de forma cada vez mais prático e rápido. Até que surge do nada uma grande manifestação de profissionais da saúde contra um tal ato médico - perdoem a minha total ignorância sobre a matéria, imagino que deva ser algo ligado ao E.R. ou ao Dr. House... -, que começou a ocupar a praça com apitaços, falas de lideranças sindicais, e a promessa de um belo show de música. A produção foi averiguar a situação, e constatou que, assim como nós, eles tinham uma autorização da prefeitura para utilizar o mesmo espaço, no mesmo horário. Que beleza! Após inúmeras negociações, conseguiu-se conciliar as coisas: eles liberaram a praça às 17h, uma hora depois do previsto para o nosso início, e voltariam da passeata depois para um tal show musical.

Pronto! Finalmente sós! Nós e... os vendedores ambulantes, a serra circular de uma obra que acontecia no prédio em frente à apresentação, dois pastores que pregavam e cantavam ao lado da cena, o comércio do centro aberto, enfim, finalmente, tínhamos uma situação de rua no máximo do melhor e do pior: hora dos meninos darem conta de conquistar o público naquela situação limite, e de nós, do lado de fora, encontrarmos o equilíbrio entre controlar uma mínima ordem na praça, mas diferenciarmos o que deveríamos conter e o que não podíamos interferir.

E assim foi. O primeiro ato foi sofrido. O público não entrava, não respondia - com toda a razão -, o espetáculo não funcionava, demorou até a coisa começar a acontecer. Enquanto isso, a gente continuava controlando a manifestação, adiando o início do show da banda de pífanos, etc.

Bom, do segundo ato em diante, o espetáculo foi conquistando o público, e acabamos bem. No entanto, numa avaliação mais geral, acho que a apresentação foi bem ruim. No entanto, pelas condições tão complicadas, fica difícil definir o quanto perdemos desde a apresentação - seja por relaxamento, seja por cansaço, etc. - ou quanto as circunstâncias foram determinantes.

Paraíba se foi, Ceará se foi. Amanhã, seguimos para o Rio Grande do Norte, nossa casa! Aquele país chamado Mossoró, depois Assu (ou Açu? A pergunta que não quer calar!), e por fim Natal, antes de seguirmos viagem rumo a Pernambuco.

sexta-feira, 5 de março de 2010

Entre belas coxas e opções sexuais em Sobral...

Vinte!!!!!

Hoje merecemos os aplausos calorosos que recebemos. Mais do que uma boa apresentação, por termos enfrentado ontem quase QUINZE HORAS de estrada de Cuité a Sobral. Simplesmente passamos o dia no busão, e chegamos aqui mais de uma da manhã... Eita, vida véia desmantelada!

Mal dormimos, e já estávamos nós, os três-mosqueteiros-aquarianos-da-coordenação-técnica, visitando a praça e definindo o espaço para apresentação num calor mossorórico!!!!! Claro que, para uma equipe que passou um mês no inferno cariocal, nada demais... Mesmo assim, "é quentchura muintcha"!

Bom, após o almoço, fomos à labuta. A apresentação foi na praça em frente ao Teatro São João, um teatro lindo, antigo, super charmoso, que serviu também como nosso espaço de camarim e aquecimento. O super esquema de montagem que implantamos em Cuité foi novamente colocado em prática, mas a natureza nos aprontou uma boa peça: o vento, que pela manhã indicava uma direção, à tarde, após montarmos metade do cenário e estrutura de luz, resolveu mudar de ideia, e nos fez mudar tudo para a extremidade oposta da praça... Eta, nóis! Com esse imprevisto, perdemos um tempo razoável, mas apesar disso, a montagem ainda assim foi tranquila, graças à prática que já adquirimos.

O público foi demorando pra chegar, com isso atrasamos em meia hora início. Depois que começamos, as pessoas foram chegando, e segundo o Instituto Japa-Telles, tivemos nesta sexta um pouco mais de 500 pessoas, público bem bacana. A apresentação foi boa, acho que o espetáculo tá ganhando consistência, ganhando corpo. Bom, a Chris assistiu da plateia hoje, da primeira fila, e anotou várias coisas que serão repassadas para os meninos. Vamos ver se ela concorda com esse meu diagnóstico ou não...

Por fim, tivemos um excelente debate. Pra começo de conversa, o local foi o próprio Teatro São João. Foi um privilégio poder usá-lo para o bate-papo. Tivemos muita gente interessada, e muitas perguntas! De curiosidade, elogios às coxas do Marco e da Renata, e questionamentos acerca da sexualidade do Joaquim Simão, que foram rebatidas de imediato pela nossa diretora, de uma forma tão curiosa quanto!!!! Muito bom, muito divertido!!!!

Enfim, mais uma etapa se vai. Só não tivemos o dia de descanso, e mal pudemos ver a cara da cidade, mas ainda assim foi bem bacana essa primeira parada cearense. Vale o registro que, conversando com funcionários da secretaria de cultura, soube que a minha amiga Rejane Reinaldo, como secretária na última gestão municipal, fez um trabalho excelente, foi elogiada por todos, e isso me deixou muito feliz! Bravo, Rejrei!!!!

Agora, seguimos para Cascavel. Infelizmente, não estarei nessa etapa, já que vou acompanhar os dois primeiros dias da Pré-Conferência Nacional de Teatro em Brasília, mas volto a tempo da labuta fortalezense.

Resta agora saber se a apresentação de Cascavel terá registro no blog ou não, já que agora, como ninguém tem mais a obrigação de escrever, virou meu blog pessoal da turnê... Por outro lado, parece que ninguém anda lendo muito mesmo, pelos parcos comentários... Até Fortaleza! E faltam vinte!

quarta-feira, 3 de março de 2010

A isso se chama organização!

Apresentação 3. Faltam 21!!!

Cuité foi uma experiência bem marcante. Depois de um bom hotel em João Pessoa e um razoável em Campina Grande, pegamos a primeira hospedagem ruim da turnê. Além disso, os quartos quádruplos fazem da estadia mais desconfortável, sem ar condicionado, más dormidas. Isso tudo faz dessa etapa bem difícil, atrapalha um pouco toda a nossa vida, situação atenuada por estarmos ainda no início...

A cidade é pequena, com cerca de vinte e dois mil habitantes, e sem muitos atrativos. De destaque, a universidade, um Campi da Universidade Federal de Campina Grande, que não fui conhecer pessoalmente, mas quem foi disse que, como afirmaria o Simão, é um exemplo de universidade. Diferente de Campina, ontem aproveitamos a metade do dia de folga e curtimos um pouco a cidade, passeamos, jogamos uma sinuca, tomamos uma cervejinha, enfim, nos demos o direito de um pouco de lazer.

Apesar das condições pouco favoráveis, tivemos uma recepção muito carinhosa por parte do secretário de cultura local e dos integrantes da Cia. Cuiteense de Teatro. Isso faz toda a diferença. Cuité, apesar de seu tamanho diminuto, tem um teatro - não chegamos a conhecê-lo, infelizmente - e cerca de seis grupos!

Ontem definimos o local da apresentação, e a coordenação técnica - eu, Rafa e Galego - fez uma reunião interna para organizar o descarregamento, montagem, desmontagem e carregamento do material. Apesar de não estarmos tendo problema até então, a coisa ainda estava muito aquém do que poderia render, e o risco de perdermos alguma coisa era iminente. Hoje, antes de seguirmos para o local da apresentação, fizemos uma reunião e passamos todo o esquema para a equipe, com a definição de grupos para cada função, etc. Ainda aproveitamos (eu e a Chris) para atentar o elenco sobre o relaxamento que já começa a tomar conta da cena, com uma postura um tanto desatenta quando se está nas estações (pontos de apoio que ficam fora de cena, mas à vista do público) e, principalmente, a quantidade de cacos que surgiram em Campina. Alertamos sobre a necessidade de nos mantermos firmes com o espetáculo que criamos, sem nos deixarmos levar pela tentação de agradar a plateia com riso fácil, etc.

Chegando no espaço ao lado da Matriz, a coisa funcionou quase perfeitamente como planejamos, com exceção de insignificantes detalhes que serão resolvidos em Sobral. Resultado: praticamente três horas a menos na montagem!!! Tanto elenco quanto equipe ficaram livres muito mais cedo do que nas outras duas cidades!

O público chegou bem em cima da hora, alguns um pouco depois, mas surpreendentemente tivemos mais de 500 pessoas, quase o dobro que tivemos em Campina Grande, uma cidade bem maior!

Cabe ressaltar alguns aspectos da apresentação. A chegada dos camelôs foi muito melhor, conseguimos fazer muito próximo do que eu imaginava. Resta saber se foi um acaso - ou conjunção de fatores positivos, para ser menos cruel - ou se realmente encontramos. Aquelas figuras estranhas com seus produtos igualmente toscos tomaram a praça de assalto, mexeram com a dinâmica que estava instaurada, foi uma invasão, como imaginávamos desde o começo do processo. No entanto, apesar desse excelente approach, o início do espetáculo deixou muito a dever. A música inicial, sempre ela, foi executada com os já tradicionais atropelos, entradas erradas, ansiedades, etc, e o primeiro ato foi todo meio arrastado, meio estranho. O público era muito diferente daquele de Jampa e Campina. Claramente muita gente nunca tinha visto teatro antes, apesar do movimento teatral da cidade que citei acima, e as respostas não vinham como vieram antes. Os momentos em que tínhamos riso eram ligados à comédia física ou à picardia. De resto, as nuances mais finas e suaves passavam batidas. Isso gerou um movimento interessante nos atores, que buscaram - alguns conscientemente, outros acho que não - atalhos para estar mais próximos ao público. E funcionou! Apesar de ter sido a apresentação mais deslocada até agora - incluindo aí os dois ensaios abertos -, com uma plateia muito diferente das anteriores, foi muito lindo ver como o público se manteve firme, atento, vivo, interessado no que se passava em cena! Foi bonito também ver os atores - um deles em especial, né? - não se deixarem levar pela tentação de "aproximar o espetáculo das referências do público", e sim manter a potência cênica do trabalho que criamos e acreditar que ela chegaria forte, e foi o que aconteceu! Ao final, dedicamos a apresentação à Cia. Cuiteense, nossos dedicados anfitriões.

Por fim, tivemos um bate-papo muito bacana, com a presença de quatro grupos da cidade, e um desejo de manutenção de trocas e intercâmbios entre nós. A desmontagem, foi outro ponto a se destacar: organizada, tranquila, e rápida. Não tão rápida quanto a montagem, mas muito melhor do que antes. Ponto pra equipe toda e em especial, modéstia à parte, para os mentores deste novo sistema.

Parada inusitada esta de Cuité. Pontos altos e baixos, e a lição de que o rigor com a organização e a precisão, seja dentro ou fora da cena, serão fundamentais para o decorrer desta longa jornada Nordeste adentro.

domingo, 28 de fevereiro de 2010

2

A saga continua. Aqui em Campina, a produção, montagem, desmontagem, apesar de ainda longe da perfeição, já começam a mostrar os sinais da prática. Tudo começa a ficar mais fácil e ágil. Os tipos de problema que iremos encontrar começam a aparecer, e as formas de solucionar também. Hoje, por exemplo, o ônibus não teria como estacionar na Praça da Bandeira, nosso local de apresentação, para descarregarmos o cenário. Inicialmente, o Rafa propôs um esquema que envolveria carregarmos uma F-30 com as coisas, e descarregarmos na Praça, o que resolveria nosso problema, apesar de que teríamos que passar por dois descarregamentos. Depois, a produção conseguiu acionar a polícia de trânsito para permitir não só a parada como o estacionamento do ônibus ao lado da praça, parando o fluxo da avenida enquanto o ônibus manobrava. Fino!

Bom, a montagem, apesar de ainda um pouco bagunçada, já foi bem mais rápida e fácil. É bacana começar a entender como escolher o melhor lugar em cada praça, adaptar para as condições encontradas, preparar o espetáculo para os mais diferentes lugares. Em salas de espetáculo isso já acontece, mas na rua a transformação é muito maior! Já curtia muito isso antes, a adaptação técnica e espacial para cada teatro. Agora, na rua, tenho a impressão que isso vai ser mais legal ainda! Bom, hoje foi só a segunda apresentação, vinte e duas ainda estão por vir. Este blog será testemunha se essa afirmação foi precipitada e inocente ou não...

Mexemos na abertura (chegada dos camelôs), foi um pouco menos pior, mas ainda longe de poder ser chamado de bom. Além disso, não foi executado como pedido. Em Cuité melhoraremos. A apresentação, para cerca de 300 pessoas (segundo o Instituto DataJapa) foi muito bem recebida pelo público. No entanto, o que era clima de "já ganhou" antes de estrearmos, virou algo que é melhor nem comentar por enquanto, até porque o diretor tem uma bela bronca preparada para seu elenco que ainda será dada antes da próxima apresentação (viu, elenco?). Depois da bronca, talvez eu comente por aqui também.

O debate ao final teve um público bem mais participativo e interessado do que em Jampa. Me peguei percebendo o quão inusitada é essa situação: uma rodinha de 30, 40 pessoas, no meio de uma praça pública, às nove horas da noite de uma segunda-feira, falando sobre processos criativos no teatro. No entorno, bêbados, cheiradores de cola, aposentados jogando dominó, cachorros, e nós, as espécimes mais exóticas dessa rica fauna! Muito bom isso!!! Rsrs... Em tempo, tivemos o primeiro cachorro em cena do espetáculo! Ufa! Já tava ficando preocupado! Infelizmente, ele muito educadamente entrou na área cênica pela porta da casa do Aderaldo, saiu pela porta da casa do Simão, sem ser sequer percebido pelos atores (Thardelly e Suellen), que estavam imersos em sua cena no proscênio. Mas deixou a sua marca e batizou o espetáculo. Evoé!

Enfim, resumindo, por um lado o espetáculo vai ganhando um pique, uma apropriação, e mostrando a sua cara, a sua força, comunicando bem com o público. Esse é o lado bom. O ruim fica pra depois...

Mas, para não terminar o post nesse anti-clímax, fechamos a noite no Mororó, restaurante de ambiente super agradável e excelente comida regional! Já vim a Campina umas seis ou sete vezes, e garanto que, dentro do meu ainda restrito conhecimento da cidade, é a melhor comida de CG. Lauto jantar, mais do que merecido, para um bando de artistas batalhadores que andaram passando por alguns apuros gastronômicos nesses primeiros dias de jornada. E tá só começando... Ai, ai, ui, ui!

E faltam vinte e duas!!!! Simbora pra Cuité! Cuité!?

Até agora, tudo vai bem...

Nasceu!

Com quase 800 testemunhas em pleno Ponto Cem Réis, nosso filho finalmente veio à tona!

O dia de montagem teve poucos pontos de tensão, diferente do que eu imaginava. De cara, só pudemos começar a trabalhar às 13h, ou seja, quatro horas antes do início do espetáculo, o que nos pegou de calças curtas. Afinal, por mais simples que a estrutura possa ser - e não é tão simples assim! - era a primeira montagem pra valer, com todos os imprevistos que essa situação inaugural pode trazer.

Enfim, independente disso, a montagem foi bacana, pelo fato de todos estarem muito tranquilos, sem aquela pressão, entendendo que o tempo das coisas precisaria ser respeitado com calma. Ponto pra todos, em especial pro elenco, que é quem estaria mostrando a cara momentos depois, e que garantiu o melhor clima para que tudo estivesse pronto a tempo.

Durante toda a tarde, inúmeros transeuntes paravam, analisavam o cenário, e invariavelmente perguntavam: "Quanto custa esse óculos?", "Esses CDs tão à venda?" ou "Esse chá pra gastrite funciona mesmo?". E nós, aproveitando essas abordagens espontâneas, íamos explicando que se tratava de um cenário de teatro, e que haveria uma apresentação mais tarde.

Chegando perto do horário, o público foi aparecendo. Muita gente, muita gente de teatro, aliás, acho que todas as pessoas de teatro de João Pessoa estavam naquela praça!!! Diretores, cenógrafos, atores, estudantes, muito bom ver tanta gente por lá. O prestígio do Ser Tão e a ansiedade em ver o resultado desse processo compartilhado instigou todos a irem ao PCR. Além disso, também estavam presentes alguns convidados de fora, como a família da Chris, vinda do Rio, minha família, que veio de Natal, a filha e o genro do Ariano Suassuna, nossos amigos Tainá e Lineu, do Núcleo Viventes de Criação, de Recife, e um fã do grupo de Natal, que eu vou cometer a imperdoável gafe de não lembrar o nome (que feio...), que sempre acompanhou os Barracantes, desde o processo do Capitão, e veio nos prestigiar por aqui também!

Finalmente, com vinte minutos de atraso, os meninos começaram a entrar pela praça, de forma tímida, pequena, mas assim que o Thardelly pegou o megafone e disparou seu "vamos lá, minha gente, vamo se aproximando!", o bicho pegou! Assim que a Andreza (Rê) disse que o Simão "é feio pra danado", e o público veio abaixo (!!!!), percebemos que a coisa tinha pegado fogo, como diria o mestre Hélder Vasconcelos. E foi mesmo. Confesso que fiquei alijado de assistir o espetáculo, primeiro porque tava cheio demais, e segundo porque precisávamos estar atentos ao que acontecia na praça. É muito diferente do palco! Coisas de marinheiros de primeira viagem...

Ainda assim, consegui perceber que o que o espetáculo perdeu de precisão, algumas perdas técnicas, ganhou em vida, chegou junto do público, comunicou, divertiu, foi um final de tarde/início de noite dionisíaco. Aliás, vale ressaltar a beleza de se fazer espetáculo neste horário: a praça iluminada pelo crepúsculo, à meia luz, e aquela roda cheia de luz no meio dela, foi bonito.

Bom, mal comemoramos o nascimento, já foi hora de pegarmos o nosso super busão nesta manhã e seguirmos para Campina Grande, nossa segunda parada. Agora é hora de começar a conhecer como será essa rotina. É água!!!!!

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Semana de Pré estréia!

Dia especial de afinação do espetáculo. Apesar da inevitável sensação de jogo ganho, o grupo se reestabelece e identifica minuciosamente os buracos, as nuances de interpretação ainda a serem trabalhadas e claro, mais uma tentaiva de cortes no primeiro ato.
Começamos o dia com uma breve avaliação pós passadão. Fernando apontou algumas falhas na dinâmica e na trajetória do espetáculo. Também indicou cortes e retificações interpretativas.
Mais uma vez, o prólogo do espetáculo sofreu alterações. A entrada das personagens em meio ao público para sauda-lo e conduzi-lo à estória que será contada, foi feito da seguinte forma: os atores entram como camelôs numa espécie de chamado particular trazendo para essa sub-cena, peculiaridades descobertas ainda na primeira fase da montagem em Dezembro de 2009. Que espécie de venda seria essa?. Chegamos então ao denominador comum que, mais que uma venda, o ato de ir até o público trazendo seu personagem de vendedor para dialogar com o universo da obra de Ariano. Fomos para o lado de fora do barracão e inciamos um tipo de experimentação uns com os outros. Os carrinhos do cenário foram se movimentando com o Tardelly e a Camille, e o restante do elenco com suas estações dependuradas no pescoço criaram uma atmosfera de um verdadeiro camelódromo, onde o produto principal a ser vendido era a PEÇA.
Voltamos para dentro da sala e demos início a limpeza do prólogo, onde foi cortado a primeira parte da canção tema. O início agora tomou outro ritmo. Mais algumas pitadas de reavaliação da dramaturgia para retomarmos o passadão.
O teatro é realmente algo surpreendente e digo até mesmo intransigente quando ele precisa ser. Segundo Fernando, hoje foi um dos piores passadões da ultima semana, mas Marco em contraponto disse que foi disparado o melhor passadão musical da semana. Bem, opiniões divididas, mas sempre dialogando com o objeto artístico.
A grande verdade é que o espetácuo está pronto, levantado e pronto para seguir sua jornada nordeste, com todo amadurecimento que um espetáculo feito a ceu aberto, com música ao vivo e intinerante pode ter.
Ao chegarmos em casa, mais uma "noidrugada" de reuniões. Temos que aproveitar bastante esse tempo com a Chrstina para planejarmos e ajustarmos nossos projetos.
No mais. aguardando anciosamente a estréia da peça na nossa casa. Sábado João Pessoa será palco da grand emagia do teatro.

Evoé!

Netto Ribeiro
Pré estréia