sábado, 20 de março de 2010

Isso sim é intervenção urbana!!!

Já me emocionei muitas vezes ao longo dessa turnê, mas a apresentação em Maceió teve algo de muito especial. Estávamos abrimos a II Mostra de Teatro do SESI e, desde a nossa chegada, a hospitalidade foi dez. Hotel bom, cama confortável, carne de sol deliciosa do Picuí, e o melhor chuveiro da turnê. A cidade, que eu não visitava há mais de dez anos, parecia mais bonita.

Fomos informados que uma parte da orla seria interditada no dia seguinte para a nossa apresentação. Confesso que, no cansaço da chegada, não dei a devida atenção a questão. Na tarde do dia seguinte, no entanto, fiquei foi meio constrangida. Quando vi aquela avenida tão movimentada sendo cruzada pelo nosso ônibus em plena luz do dia, às quatro horas da tarde, com a polícia interditando o transito, achei tudo um pouco exagerado. Para completar a nova paisagem, no mínimo inusitada, o ônibus-camarim do SESI – um ônibus especialmente produzido para servir de palco, camarim e transporte, uma verdadeira carroça moderna foi aberta em plena orla e serviu de apoio para os atores, a técnica, e ainda como suporte para os banners.

E nossa equipe começou a descarregar a tralha. Como de costume foram surgindo as estruturas, os carrinhos, a iluminação, as cadeiras...

Turistas, ambulantes, moradores e meninos de rua curiosos indagavam que show iria acontecer ali. E a gente, orgulhosamente, respondia: Não é show, não. É TEATRO!

E o publico foi chegando. Mais de meia hora antes do inicio da peça, as cadeiras já estavam todas tomadas. Aos poucos, a avenida foi se tornando um grande e belo palco com mais de quinhentas pessoas assistindo à peça. Bela apresentação do nosso elenco, diga-se de passagem. Nevinha cresce a cada apresentação. Encontrou seu corpo, descobriu os pulinhos, os ombros, ganhou ritmo, e encontrou sua graça. Dá orgulho de ver!

Ritmo bom, platéia animada.... até que a chuva chegou e, finalmente, fomos batizados!!! Pegos de surpresa, os corajosos atores ainda resistiram por alguns minutos, mas a chuva apertou, e não tínhamos outro jeito se não interromper a apresentação. E foi o que fizemos. No susto, correndo, tentando proteger o cenário e, especialmente, os instrumentos.

Mas em dez minutos a chuva passou. E para minha surpresa, o publico, continuava lá. Sem arredar pé, esperando a peça continuar. Emocionante. E, assim, em meio aos aplausos, nosso atores recomeçaram o espetáculo, ainda lotado de gente de todos os tipos.

O debate, que sempre ocorre após a peça, foi dentro do teatro do SESI e cheio de gente de teatro – grupos de teatro de rua, diretores, professores da universidade: um povo interessante e interessado, num bate papo de qualidade, enriquecedor para todos.

Marcante: a intervenção urbana, a insistência do publico, a entrega da platéia, a força dos atores.

Enquanto saíamos da cidade, eu pensava: e não é que vale um pouco de transtorno no transito de vez em quando para se assistir uma peça de teatro!

Christina Streva

quinta-feira, 18 de março de 2010

Dando continuidade a essa itinerância, fomos recebidos pelo produtor local Zaccaras em frente a pousada onde dormimos por uma noite. Como bem sabemos, algumas de nossas apresentações serão seguidas, e essa é uma delas. Ontem nos apresentamos em Recife e já chegamos em Limoeiro prontos para mais um descarregamento e montagem da Farsa.

A rua em frente a pousada foi fechada com o ônibus da circulação e o ponto de apoio para maquiagem e figurino ficou sendo a Rádio Difusora localizada em frente à rua.

Às quatro horas estávamos todos já preparados para dar início à primeira função de descarregamento, organização dos camarins e da cena, e por aí vai. Mais tarde, umas duas horas antes da peça, já começavam uns a se caracterizarem e outros ainda arrumando as suas respectivas estações. Enquanto isso, na rua um carro de som divulgando a Paixão de Cristo da cidade.

Sete e meia nos reunimos no pátio da pousada para o alongamento, para a concentração e para o aquecimento vocal coletivo e minutos antes de sair... cadê a espada do Miguel Arcanjo? Ficou no quarto! Corre pro quarto e... nada da porta abrir. Vamo assim mesmo!

Demos o play, e entramos rua adentro, chamando o povo que estava sentado na praça, o pessoal do lanche que estava por ali, as crianças que corriam de um lado para o outro, e foram todos se aproxegando às muitas pessoas que já estavam ali para assistir a peça. No primeiro contato percebo o quanto o povo é interativo e isso é bom. Muito burburinho em cena, dos atores e da platéia, claro, e está começando a Farsa da Boa Preguiça em Limoeiro.

Muita participação da platéia, podendo citar, por exemplo, quando o Joaquim solta um peido na cena em que Aderaldo tenta seduzir Nevinha, e um homem acende um fósforo para disfarçar o “cheiro”. Foi o primeiro aplauso em cena aberta da noite e a primeira vez que vimos um peido ser aplaudido em cena aberta. Peidos à parte, aplausos para a sacada do homem que acendeu o fósforo.

A peça transcorreu muito bem com uma interação do público muito grande realizando comentários, revelando coisas que os personagens ainda não sabiam que iria acontecer com a finalidade de ajudá-los, além das risadas extravagantes, dos ouvidos atentos. Enfim, Limoeiro, a meu ver foi uma apresentação bastante especial, pela particularidade do público que me parece ter se não o hábito, a curiosidade para a cultura.

Já no debate, o mais demorado até então, com muitas colocações sobre a peça e sobre a vida cultural da cidade, com a participação de todos os grupos de teatro, o secretário de cultura, uma professora que trouxe seus alunos e que no dia seguinte viria a perguntar aos alunos o que eles entenderam da peça para discutirem a sala de aula o que havia sido visto, estudantes de teatro e de música trazendo seus questionamentos e curiosidades.

Após esse debate super produtivo para ambos os lados, fomos comer, é claro, e para nossa surpresa, pois não esperávamos um banquete daqueles de lamber os beiços, dedos, garfos, fomos recebidos pela família que administra o Restaurante Limoeirense, conhecido por receber as mais célebres bandas de forró e que possui uma variedade de pratos que vai de um simples arroz, ao arroz de camarão e a um delicioso prato de bacalhau que todos ficamos loucos.

Evoé, Limoeiro!

quarta-feira, 17 de março de 2010

Recife

Continuamos na estrada, estamos em nossa décima apresentação e agora é a vez de Recife, a terra do Frevo e do Maracatu e o principal, é lá onde mora o autor da Farsa, o grande Ariano Suassuna.

O ônibus da circulação chegou com o pessoal dia 16/03 no Plaza Hotel, por voltas das 20h, depois que todos se acomodaram e jantaram, Christina, Calina e Neto foram fazer panfletagem no Recife Antigo.

No outro dia pela manhã Eu, Isadora e Suellen que curtimos a folga em João Pessoa chegamos no Recife, arrumamos nossas coisas e fomos almoçar e como é de costume, 4 horas antes do espetáculo começar, todos já se encontravam no local de apresentação para descarregar o ônibus e montar cenário no Pátio São Pedro. Lugar melhor na cidade para apresentação não havia, além da praça ser bem conhecida na cidade por evento culturais que acontecem lá como a Terça Negra, lá fica a Catedral de São Pedro dos Clérigos, que é tombada pelo Patrimônio Histórico Nacional, uma igreja linda e que nos fez entrar mais ainda no clima do peça, pois São Pedro, para quem não sabe, é um dos personagem do espetáculo.

Quando chegamos ao Pátio São Pedro descarregamos o ônibus, mas não começamos logo a montagem, pois pela primeira vez enfrentamos a tão temida (e prevista) chuva, pois sabíamos que em alguma cidade isso aconteceria e nada mais justo que a primeira vez fosse em frente a Igreja de São Pedro cumpriu bem o seu papel, passou o dia inteiro chovendo, com alguns intervalos de estiagem.

Atrasamos um pouco a apresentação porque só afinamos a luz quando a chuva deu uma trégua e mesmo assim em Recife tivemos um publico fiel. Durante toda a apresentação São Pedro deu uma segurada na chuva, no entanto, após uns 15 minutos de debate lá em a chuva mais uma vez e saímos nós e o público carregando às pressas o que dava pra salvar.

E foi assim nossa passagem por Recife, com a presença de um público fiel, que mesmo debaixo de chuva esperou o espetáculo começar e não podemos esquecer de São Pedro que cessou a chuva durante toda apresentação.

Agora é hora de pegar a estrada rumo a Limoeiro, nossa próxima parada.

segunda-feira, 15 de março de 2010

Eita que chegou a hora de Natal!

Farsa continua com sua peregrinação pelo nordeste, chegamos na cidade de Natal, a casa dos Clowns e também bastante familiar para nós do Ser Tão. Chegamos num domingo chuvoso na casa em Ponta Negra com descanso para a apresentação de segunda.

Segunda dia 15, nos encontramos às 14h para começar a arrumação de tudo para a apresentação às 19h30 na frente do Teatro Alberto Maranhão. Tudo indo muito bem, colocando as luzes, estruturas no lugar e nós meninas preparando as miudezas necessárias. Um dia especial também, a gravação da peça com microfones e câmeras para todos os lados.

Eu e a Maisa terminamos de arrumar os adereços e partimos juntos com outros para nos arrumar no camarim do teatro, nos espalhando pelo espaço, dividindo os espelhos e relaxando para mais uma.

Aí está a 9° apresentação, Farsa da Boa Preguiça em Natal, com todos os amigos dos Clowns a classe artística natalense, e todos os curiosos passantes pela praça. A peça começou animada, a todo vapor. Tudo em perfeita ordem, todos se jogando e fazendo bem seu papel. O público já preso por aquelas figuras populares, pelos acontecimentos que rondam toda a trama.

O primeiro ato se desenrolou rápido, as cenas bem executadas sem nenhum problema, com pique e alegria, o público muito participativo. O segundo ato começou com São Pedro todo animado com seu “Segura na mão de Deus” e como passou rápido este, Andreza entrou com sua língua enorme em cima de Simão e logo estava Clarabela dando a “massage” no Simão, entro em cena com Nevinha a vassouradas em cima de Simão. Logo já fomos para venda da cabra e o “Foideu” já tinha acontecido. Xibosclécio teve sua participação dando algo de valor para Catacão. E tudo se desenrola rapidamente com os risos de todos com a esperteza de Simão. Saem Nevinha e Simão apaixonados.

Terceiro ato entra em ação com a pantomima, e o desfecho parece ainda mais rápido, com os 20 anos passados. As cenas das diabas com seu funk animou a platéia e fez todos rirem das reboladas e línguas enormes. A cena dos celestiais aclamada como sempre depois de “Jesus Cristo” tendo seu momento tenso. Logo as diabas mandam Clarabela e Catacão para o inferno. A reza acontece fazendo com que todos do público dêem as mãos para salvar o casal perdido. E o fim se aproximou com o galope e os aplausos de todos.

O debate após a peça foi muito interessante, perguntas sobre cenário, sobre figurino, caracterização e até sobre a língua da Renata Kaiser foi comentada. Muitos elogios e muita merda para longa vida ao espetáculo.

Terminamos com a desmontagem com cada um na sua função, e menos uma.

Ah para constar o maior chapéu de todos vai para NATAL!!!

Agora Recife, será que vamos ter espectador especial?

3 x 1

Eita danado! Finalmente chegamos à terra do nosso monstro sagrado do teatro potiguar César Ferrário. Interior com cara de cidade grande, terra do sal e do petróleo. Repleta de lendas, uma que me contaram foi a de um tal CÉSAR (não o nosso) que insistia em ter relações amorosas com fuscas. É...cada qual com o cano de escape que deus lhe deu! Ficamos hospedados no maravilhoso hotel Thermas Resort de Mossoró, a equipe agradece imensamente esse dias de piscinas térmicas e excelente atendimento, afinal de contas nós merecemos. Mas como nem tudo são flores, tínhamos pela frente três apresentações seguidas. Uma na cidade de Mossoró em frente ao Teatro Municipal Dix-Huit na sexta feira. No sábado outra apresentação em Mossoró só que desta vez no Thermas Resort e a terceira apresentação na cidade de Assu. Tentarei fazer aqui um único depoimento dessa nossa experiência nessas duas cidades.
O descarregamento do ônibus foi feito como de costume pela equipe já pré estabelecida. Ao chegar no teatro meu queixo ficou no chão pela imponência e pela magnitude do prédio do teatro Municipal. Com apenas seis aninhos de vida, já respira como gente grande. Um teatro moderno, com capacidade para mais de 700 espectadores, lindo, um sonho... Mas um sonho para os outros, porque nosso sonho tava lá fora na praça, por sinal uma belíssima praça em formato circular, e com uma mandala feita de azulejos foscos. Os camarins foram nosso ponto de apoio. Lá nos organizamos e esperamos a hora do começo de mais um dia de celebração dionisíaca. Os grupos de teatro da cidade foram chegando aos poucos, A maioria já conhecido dos clowns, então podemos chamar isso de um reencontro.
A entrada das personagens em meio ao público já está mais orgânica. já sabemos que energia que precisamos jogar para o público. A apresentação cumpriu sua função. O debate teve a participação calorosa dos grupos de teatro de Mossoró, questões pertinentes as nossas idéias foram colocadas na roda. Construir relações com outros grupos, trocar experiências é aindaum dos pontos fortes dessa nossa trajetória. O Ser Tão agora criou uma mala direta, mas essa é DIRETA mesmo, pois em cada debate os participantes escrevem em uma pequena ficha distribuída por nossa produção seus dados para mantermos contato posterior, e enviarmos nosso informativo o SerTeiro. O estado de “jogo ganho” ainda prevalece em alguns de nós e eu me incluo também. Resultado disso foi à reunião que tivemos no dia seguinte para avaliação. Fernando deixou para o fim sua avaliação mais do que direta para o ator que vos escreve. Disse que eu perdi completamente toda minha construção da personagem que eu havia fazendo tão bem, e substitui por tentativas às vezes frustradas de arrancar riso da platéia gratuitamente. Disse que a essência da personagem havia ficado em algum lugar e que eu precisava resgatá-la. Essas palavras do Fernando mexeram muito comigo. Não pelo fato de levar um puxão de orelha, mas sim pelo fato de não manter a organicidade construída durante o processo de edificação da personagem. Eu precisava encontrar um outro caminho para crescer na trama. Não sei se depois dessa conversa, mas fui acometido por uma forte dor de cabeça que me impediu inclusive de participar da desmontagem do material para apresentação mais a noite. A nossa base nesse dia foi no próprio hotel. Saímos em passeata até o local de apresentação, que para nossa apreensão era um palco suspenso há dois metros do chão, sem retorno e nem acústica alguma, numa festa privada, e mais do que isso, trabalhamos pela primeira vez a frontalidade e a redução da cenografia. Mas para nosso alívio, Marco nos orientou no sentido de projeção vocal, para que não nos afobássemos para mantermos a mesma energia que emanamos quando estamos no chão e próximo ao público. Microfones de captação extremamente sensíveis foram colocados em pontos estratégicos e graças a Dionísio, todos que estavam presentes escutaram e acompanharam através de um telão todo o espetáculo. Cumprimos nossa apresentação com dignidade.
Mais um dia de luta, fomos direto para a cidade do Assu – RN, cidade essa mais do que perfeita para a trama de Ariano. Conhecida como a cidade dos poetas, e poetas esses que sofrem preconceito por serem poetas e são condecorados como preguiçosos e desocupados. Ta aí o ócio criador sendo corrompido pelas falhas convicções humanas. Fiquei literalmente envaidecido em ver o local que iríamos nos apresentar. Um anfiteatro belíssimo, de frente a igreja de São João Batista datada de 1780. Lembrava muito os grandes mercados medievo. Fomos recepcionados pelo secretário de cultura da cidade, que nos levou até o restaurante para almoçar. Uma comida caseira dos deuses nos deu força para o terceiro dia consecutivo de apresentações. Preparamos-nos no centro cultural ao lado da praça, Os Clowns mais uma vez reencontraram integrantes dos grupos de teatro local. Afinal, eles já haviam vindo outras vezes com outros espetáculos de seu repertório. A apresentação estava marcada para as 19 h, mas foi divulgado às 19h30min h, esperamos o público até as 19h45min h. Quando tomamos conta da praça. Os ambulantes se espalharam e buscaram pessoas que estavam dentro das casas, longe nos bares, e aos poucos o público foi se aglomerando, e ocupando toda aquela arena. No meu primeiro texto da peça, eu jurava que estava num teatro, de tão perfeita que era a acústica daquele espaço. A apresentação foi mais do que especial. Um grande círculo dionisíaco cercava a Farsa e emanava energia num ping pong alucinante.
O debate foi bastante caloroso, alguns artistas presentes, desabafaram suas angustias alegando falta de apoio do município para suas montagens. Quase que o debate se transforma num ring político. Que bom que isso aconteceu, que bom que de alguma forma despertamos algo que estava inquieto dentro deles.
Ufa... Hora de respirar um pouco, daqui vamos para Natal, a casa dos Clowns. Esperamos uma belíssima apresentação. E um chapéu feliz já que mainha, painho, filho, cunhado, vô, vó, amigos e agregados dos Clowns vão estar presentes.
Evoé minha gente!!

Netto Ribeiro
Circulando