Isso sim é intervenção urbana!!!
Já me emocionei muitas vezes ao longo dessa turnê, mas a apresentação em Maceió teve algo de muito especial. Estávamos abrimos a II Mostra de Teatro do SESI e, desde a nossa chegada, a hospitalidade foi dez. Hotel bom, cama confortável, carne de sol deliciosa do Picuí, e o melhor chuveiro da turnê. A cidade, que eu não visitava há mais de dez anos, parecia mais bonita.
Fomos informados que uma parte da orla seria interditada no dia seguinte para a nossa apresentação. Confesso que, no cansaço da chegada, não dei a devida atenção a questão. Na tarde do dia seguinte, no entanto, fiquei foi meio constrangida. Quando vi aquela avenida tão movimentada sendo cruzada pelo nosso ônibus em plena luz do dia, às quatro horas da tarde, com a polícia interditando o transito, achei tudo um pouco exagerado. Para completar a nova paisagem, no mínimo inusitada, o ônibus-camarim do SESI – um ônibus especialmente produzido para servir de palco, camarim e transporte, uma verdadeira carroça moderna foi aberta em plena orla e serviu de apoio para os atores, a técnica, e ainda como suporte para os banners.
E nossa equipe começou a descarregar a tralha. Como de costume foram surgindo as estruturas, os carrinhos, a iluminação, as cadeiras...
Turistas, ambulantes, moradores e meninos de rua curiosos indagavam que show iria acontecer ali. E a gente, orgulhosamente, respondia: Não é show, não. É TEATRO!
E o publico foi chegando. Mais de meia hora antes do inicio da peça, as cadeiras já estavam todas tomadas. Aos poucos, a avenida foi se tornando um grande e belo palco com mais de quinhentas pessoas assistindo à peça. Bela apresentação do nosso elenco, diga-se de passagem. Nevinha cresce a cada apresentação. Encontrou seu corpo, descobriu os pulinhos, os ombros, ganhou ritmo, e encontrou sua graça. Dá orgulho de ver!
Ritmo bom, platéia animada.... até que a chuva chegou e, finalmente, fomos batizados!!! Pegos de surpresa, os corajosos atores ainda resistiram por alguns minutos, mas a chuva apertou, e não tínhamos outro jeito se não interromper a apresentação. E foi o que fizemos. No susto, correndo, tentando proteger o cenário e, especialmente, os instrumentos.
Mas em dez minutos a chuva passou. E para minha surpresa, o publico, continuava lá. Sem arredar pé, esperando a peça continuar. Emocionante. E, assim, em meio aos aplausos, nosso atores recomeçaram o espetáculo, ainda lotado de gente de todos os tipos.
O debate, que sempre ocorre após a peça, foi dentro do teatro do SESI e cheio de gente de teatro – grupos de teatro de rua, diretores, professores da universidade: um povo interessante e interessado, num bate papo de qualidade, enriquecedor para todos.
Marcante: a intervenção urbana, a insistência do publico, a entrega da platéia, a força dos atores.
Enquanto saíamos da cidade, eu pensava: e não é que vale um pouco de transtorno no transito de vez em quando para se assistir uma peça de teatro!
Christina Streva