sexta-feira, 5 de março de 2010

Entre belas coxas e opções sexuais em Sobral...

Vinte!!!!!

Hoje merecemos os aplausos calorosos que recebemos. Mais do que uma boa apresentação, por termos enfrentado ontem quase QUINZE HORAS de estrada de Cuité a Sobral. Simplesmente passamos o dia no busão, e chegamos aqui mais de uma da manhã... Eita, vida véia desmantelada!

Mal dormimos, e já estávamos nós, os três-mosqueteiros-aquarianos-da-coordenação-técnica, visitando a praça e definindo o espaço para apresentação num calor mossorórico!!!!! Claro que, para uma equipe que passou um mês no inferno cariocal, nada demais... Mesmo assim, "é quentchura muintcha"!

Bom, após o almoço, fomos à labuta. A apresentação foi na praça em frente ao Teatro São João, um teatro lindo, antigo, super charmoso, que serviu também como nosso espaço de camarim e aquecimento. O super esquema de montagem que implantamos em Cuité foi novamente colocado em prática, mas a natureza nos aprontou uma boa peça: o vento, que pela manhã indicava uma direção, à tarde, após montarmos metade do cenário e estrutura de luz, resolveu mudar de ideia, e nos fez mudar tudo para a extremidade oposta da praça... Eta, nóis! Com esse imprevisto, perdemos um tempo razoável, mas apesar disso, a montagem ainda assim foi tranquila, graças à prática que já adquirimos.

O público foi demorando pra chegar, com isso atrasamos em meia hora início. Depois que começamos, as pessoas foram chegando, e segundo o Instituto Japa-Telles, tivemos nesta sexta um pouco mais de 500 pessoas, público bem bacana. A apresentação foi boa, acho que o espetáculo tá ganhando consistência, ganhando corpo. Bom, a Chris assistiu da plateia hoje, da primeira fila, e anotou várias coisas que serão repassadas para os meninos. Vamos ver se ela concorda com esse meu diagnóstico ou não...

Por fim, tivemos um excelente debate. Pra começo de conversa, o local foi o próprio Teatro São João. Foi um privilégio poder usá-lo para o bate-papo. Tivemos muita gente interessada, e muitas perguntas! De curiosidade, elogios às coxas do Marco e da Renata, e questionamentos acerca da sexualidade do Joaquim Simão, que foram rebatidas de imediato pela nossa diretora, de uma forma tão curiosa quanto!!!! Muito bom, muito divertido!!!!

Enfim, mais uma etapa se vai. Só não tivemos o dia de descanso, e mal pudemos ver a cara da cidade, mas ainda assim foi bem bacana essa primeira parada cearense. Vale o registro que, conversando com funcionários da secretaria de cultura, soube que a minha amiga Rejane Reinaldo, como secretária na última gestão municipal, fez um trabalho excelente, foi elogiada por todos, e isso me deixou muito feliz! Bravo, Rejrei!!!!

Agora, seguimos para Cascavel. Infelizmente, não estarei nessa etapa, já que vou acompanhar os dois primeiros dias da Pré-Conferência Nacional de Teatro em Brasília, mas volto a tempo da labuta fortalezense.

Resta agora saber se a apresentação de Cascavel terá registro no blog ou não, já que agora, como ninguém tem mais a obrigação de escrever, virou meu blog pessoal da turnê... Por outro lado, parece que ninguém anda lendo muito mesmo, pelos parcos comentários... Até Fortaleza! E faltam vinte!

quarta-feira, 3 de março de 2010

A isso se chama organização!

Apresentação 3. Faltam 21!!!

Cuité foi uma experiência bem marcante. Depois de um bom hotel em João Pessoa e um razoável em Campina Grande, pegamos a primeira hospedagem ruim da turnê. Além disso, os quartos quádruplos fazem da estadia mais desconfortável, sem ar condicionado, más dormidas. Isso tudo faz dessa etapa bem difícil, atrapalha um pouco toda a nossa vida, situação atenuada por estarmos ainda no início...

A cidade é pequena, com cerca de vinte e dois mil habitantes, e sem muitos atrativos. De destaque, a universidade, um Campi da Universidade Federal de Campina Grande, que não fui conhecer pessoalmente, mas quem foi disse que, como afirmaria o Simão, é um exemplo de universidade. Diferente de Campina, ontem aproveitamos a metade do dia de folga e curtimos um pouco a cidade, passeamos, jogamos uma sinuca, tomamos uma cervejinha, enfim, nos demos o direito de um pouco de lazer.

Apesar das condições pouco favoráveis, tivemos uma recepção muito carinhosa por parte do secretário de cultura local e dos integrantes da Cia. Cuiteense de Teatro. Isso faz toda a diferença. Cuité, apesar de seu tamanho diminuto, tem um teatro - não chegamos a conhecê-lo, infelizmente - e cerca de seis grupos!

Ontem definimos o local da apresentação, e a coordenação técnica - eu, Rafa e Galego - fez uma reunião interna para organizar o descarregamento, montagem, desmontagem e carregamento do material. Apesar de não estarmos tendo problema até então, a coisa ainda estava muito aquém do que poderia render, e o risco de perdermos alguma coisa era iminente. Hoje, antes de seguirmos para o local da apresentação, fizemos uma reunião e passamos todo o esquema para a equipe, com a definição de grupos para cada função, etc. Ainda aproveitamos (eu e a Chris) para atentar o elenco sobre o relaxamento que já começa a tomar conta da cena, com uma postura um tanto desatenta quando se está nas estações (pontos de apoio que ficam fora de cena, mas à vista do público) e, principalmente, a quantidade de cacos que surgiram em Campina. Alertamos sobre a necessidade de nos mantermos firmes com o espetáculo que criamos, sem nos deixarmos levar pela tentação de agradar a plateia com riso fácil, etc.

Chegando no espaço ao lado da Matriz, a coisa funcionou quase perfeitamente como planejamos, com exceção de insignificantes detalhes que serão resolvidos em Sobral. Resultado: praticamente três horas a menos na montagem!!! Tanto elenco quanto equipe ficaram livres muito mais cedo do que nas outras duas cidades!

O público chegou bem em cima da hora, alguns um pouco depois, mas surpreendentemente tivemos mais de 500 pessoas, quase o dobro que tivemos em Campina Grande, uma cidade bem maior!

Cabe ressaltar alguns aspectos da apresentação. A chegada dos camelôs foi muito melhor, conseguimos fazer muito próximo do que eu imaginava. Resta saber se foi um acaso - ou conjunção de fatores positivos, para ser menos cruel - ou se realmente encontramos. Aquelas figuras estranhas com seus produtos igualmente toscos tomaram a praça de assalto, mexeram com a dinâmica que estava instaurada, foi uma invasão, como imaginávamos desde o começo do processo. No entanto, apesar desse excelente approach, o início do espetáculo deixou muito a dever. A música inicial, sempre ela, foi executada com os já tradicionais atropelos, entradas erradas, ansiedades, etc, e o primeiro ato foi todo meio arrastado, meio estranho. O público era muito diferente daquele de Jampa e Campina. Claramente muita gente nunca tinha visto teatro antes, apesar do movimento teatral da cidade que citei acima, e as respostas não vinham como vieram antes. Os momentos em que tínhamos riso eram ligados à comédia física ou à picardia. De resto, as nuances mais finas e suaves passavam batidas. Isso gerou um movimento interessante nos atores, que buscaram - alguns conscientemente, outros acho que não - atalhos para estar mais próximos ao público. E funcionou! Apesar de ter sido a apresentação mais deslocada até agora - incluindo aí os dois ensaios abertos -, com uma plateia muito diferente das anteriores, foi muito lindo ver como o público se manteve firme, atento, vivo, interessado no que se passava em cena! Foi bonito também ver os atores - um deles em especial, né? - não se deixarem levar pela tentação de "aproximar o espetáculo das referências do público", e sim manter a potência cênica do trabalho que criamos e acreditar que ela chegaria forte, e foi o que aconteceu! Ao final, dedicamos a apresentação à Cia. Cuiteense, nossos dedicados anfitriões.

Por fim, tivemos um bate-papo muito bacana, com a presença de quatro grupos da cidade, e um desejo de manutenção de trocas e intercâmbios entre nós. A desmontagem, foi outro ponto a se destacar: organizada, tranquila, e rápida. Não tão rápida quanto a montagem, mas muito melhor do que antes. Ponto pra equipe toda e em especial, modéstia à parte, para os mentores deste novo sistema.

Parada inusitada esta de Cuité. Pontos altos e baixos, e a lição de que o rigor com a organização e a precisão, seja dentro ou fora da cena, serão fundamentais para o decorrer desta longa jornada Nordeste adentro.

domingo, 28 de fevereiro de 2010

2

A saga continua. Aqui em Campina, a produção, montagem, desmontagem, apesar de ainda longe da perfeição, já começam a mostrar os sinais da prática. Tudo começa a ficar mais fácil e ágil. Os tipos de problema que iremos encontrar começam a aparecer, e as formas de solucionar também. Hoje, por exemplo, o ônibus não teria como estacionar na Praça da Bandeira, nosso local de apresentação, para descarregarmos o cenário. Inicialmente, o Rafa propôs um esquema que envolveria carregarmos uma F-30 com as coisas, e descarregarmos na Praça, o que resolveria nosso problema, apesar de que teríamos que passar por dois descarregamentos. Depois, a produção conseguiu acionar a polícia de trânsito para permitir não só a parada como o estacionamento do ônibus ao lado da praça, parando o fluxo da avenida enquanto o ônibus manobrava. Fino!

Bom, a montagem, apesar de ainda um pouco bagunçada, já foi bem mais rápida e fácil. É bacana começar a entender como escolher o melhor lugar em cada praça, adaptar para as condições encontradas, preparar o espetáculo para os mais diferentes lugares. Em salas de espetáculo isso já acontece, mas na rua a transformação é muito maior! Já curtia muito isso antes, a adaptação técnica e espacial para cada teatro. Agora, na rua, tenho a impressão que isso vai ser mais legal ainda! Bom, hoje foi só a segunda apresentação, vinte e duas ainda estão por vir. Este blog será testemunha se essa afirmação foi precipitada e inocente ou não...

Mexemos na abertura (chegada dos camelôs), foi um pouco menos pior, mas ainda longe de poder ser chamado de bom. Além disso, não foi executado como pedido. Em Cuité melhoraremos. A apresentação, para cerca de 300 pessoas (segundo o Instituto DataJapa) foi muito bem recebida pelo público. No entanto, o que era clima de "já ganhou" antes de estrearmos, virou algo que é melhor nem comentar por enquanto, até porque o diretor tem uma bela bronca preparada para seu elenco que ainda será dada antes da próxima apresentação (viu, elenco?). Depois da bronca, talvez eu comente por aqui também.

O debate ao final teve um público bem mais participativo e interessado do que em Jampa. Me peguei percebendo o quão inusitada é essa situação: uma rodinha de 30, 40 pessoas, no meio de uma praça pública, às nove horas da noite de uma segunda-feira, falando sobre processos criativos no teatro. No entorno, bêbados, cheiradores de cola, aposentados jogando dominó, cachorros, e nós, as espécimes mais exóticas dessa rica fauna! Muito bom isso!!! Rsrs... Em tempo, tivemos o primeiro cachorro em cena do espetáculo! Ufa! Já tava ficando preocupado! Infelizmente, ele muito educadamente entrou na área cênica pela porta da casa do Aderaldo, saiu pela porta da casa do Simão, sem ser sequer percebido pelos atores (Thardelly e Suellen), que estavam imersos em sua cena no proscênio. Mas deixou a sua marca e batizou o espetáculo. Evoé!

Enfim, resumindo, por um lado o espetáculo vai ganhando um pique, uma apropriação, e mostrando a sua cara, a sua força, comunicando bem com o público. Esse é o lado bom. O ruim fica pra depois...

Mas, para não terminar o post nesse anti-clímax, fechamos a noite no Mororó, restaurante de ambiente super agradável e excelente comida regional! Já vim a Campina umas seis ou sete vezes, e garanto que, dentro do meu ainda restrito conhecimento da cidade, é a melhor comida de CG. Lauto jantar, mais do que merecido, para um bando de artistas batalhadores que andaram passando por alguns apuros gastronômicos nesses primeiros dias de jornada. E tá só começando... Ai, ai, ui, ui!

E faltam vinte e duas!!!! Simbora pra Cuité! Cuité!?

Até agora, tudo vai bem...

Nasceu!

Com quase 800 testemunhas em pleno Ponto Cem Réis, nosso filho finalmente veio à tona!

O dia de montagem teve poucos pontos de tensão, diferente do que eu imaginava. De cara, só pudemos começar a trabalhar às 13h, ou seja, quatro horas antes do início do espetáculo, o que nos pegou de calças curtas. Afinal, por mais simples que a estrutura possa ser - e não é tão simples assim! - era a primeira montagem pra valer, com todos os imprevistos que essa situação inaugural pode trazer.

Enfim, independente disso, a montagem foi bacana, pelo fato de todos estarem muito tranquilos, sem aquela pressão, entendendo que o tempo das coisas precisaria ser respeitado com calma. Ponto pra todos, em especial pro elenco, que é quem estaria mostrando a cara momentos depois, e que garantiu o melhor clima para que tudo estivesse pronto a tempo.

Durante toda a tarde, inúmeros transeuntes paravam, analisavam o cenário, e invariavelmente perguntavam: "Quanto custa esse óculos?", "Esses CDs tão à venda?" ou "Esse chá pra gastrite funciona mesmo?". E nós, aproveitando essas abordagens espontâneas, íamos explicando que se tratava de um cenário de teatro, e que haveria uma apresentação mais tarde.

Chegando perto do horário, o público foi aparecendo. Muita gente, muita gente de teatro, aliás, acho que todas as pessoas de teatro de João Pessoa estavam naquela praça!!! Diretores, cenógrafos, atores, estudantes, muito bom ver tanta gente por lá. O prestígio do Ser Tão e a ansiedade em ver o resultado desse processo compartilhado instigou todos a irem ao PCR. Além disso, também estavam presentes alguns convidados de fora, como a família da Chris, vinda do Rio, minha família, que veio de Natal, a filha e o genro do Ariano Suassuna, nossos amigos Tainá e Lineu, do Núcleo Viventes de Criação, de Recife, e um fã do grupo de Natal, que eu vou cometer a imperdoável gafe de não lembrar o nome (que feio...), que sempre acompanhou os Barracantes, desde o processo do Capitão, e veio nos prestigiar por aqui também!

Finalmente, com vinte minutos de atraso, os meninos começaram a entrar pela praça, de forma tímida, pequena, mas assim que o Thardelly pegou o megafone e disparou seu "vamos lá, minha gente, vamo se aproximando!", o bicho pegou! Assim que a Andreza (Rê) disse que o Simão "é feio pra danado", e o público veio abaixo (!!!!), percebemos que a coisa tinha pegado fogo, como diria o mestre Hélder Vasconcelos. E foi mesmo. Confesso que fiquei alijado de assistir o espetáculo, primeiro porque tava cheio demais, e segundo porque precisávamos estar atentos ao que acontecia na praça. É muito diferente do palco! Coisas de marinheiros de primeira viagem...

Ainda assim, consegui perceber que o que o espetáculo perdeu de precisão, algumas perdas técnicas, ganhou em vida, chegou junto do público, comunicou, divertiu, foi um final de tarde/início de noite dionisíaco. Aliás, vale ressaltar a beleza de se fazer espetáculo neste horário: a praça iluminada pelo crepúsculo, à meia luz, e aquela roda cheia de luz no meio dela, foi bonito.

Bom, mal comemoramos o nascimento, já foi hora de pegarmos o nosso super busão nesta manhã e seguirmos para Campina Grande, nossa segunda parada. Agora é hora de começar a conhecer como será essa rotina. É água!!!!!