sábado, 12 de dezembro de 2009

Oito laranxa é R$ 1,00; laranxa é R$ 1,00; R$1,00

E fomos a Feira do Alecrim!!!


Marcamos de nos encontrar no Barracão as 9:30 da manhã - para a maioria do grupo ainda era madrugada. Quando conseguimos nos organizar pra sair já eram mais de 10h da manhã.
Relembramos os aspectos que deveríamos observar com mais atenção: características do ambiente, prosódia dos vendedores, olhar, forma de caminhar, pulsação, ações físicas e detalhes peculiares e grotescos dos vendedores.

Lista checada e mãos a obra! Assim chegamos no Alecrim e descemos do carro sentimos aquele calor maravilhoso aquecendo nossa pele. Literalmente nos torrando. Para compensar recebemos um presente maravilhoso: caminhando em direção a feira, avistamos uma banca com um senhor muito interessante que vendia o bilhete do jogo do bicho. Então ficamos por ali, observando o movimento. Depois marcamos um horário para nos reencontrarmos naquele mesmo lugar. Tivemos uma hora e meia para nos deleitarmos na imensa feira, cada um por si. Logo na entrada, tinha um vendedor de melancia que contava os problemas conjugais para os amigos feirantes e pra quem quisesse ouvir. Uma figura.

Eu vi de tudo! Até com meu tio eu encontrei! Gostaria de chamar atenção para dois momentos: uma quando eu vi um feirante com um rosto enrijecido numa expressão que lembra raiva, com sobrancelhas e lábios contraídos, cortando a cabeça de um bode. E a sua frente, na mesma mesa, uma criança tirando a pele dos restos da cabeça do bode. Várias vezes minha observação foi interrompida porque eu precisava sair pra respirar...
O outro momento foi quando tentaram me vender um mocotó e eu acabei conversando com o feirante que me explicou algumas coisa sobre as carnes; eu fiquei curiosa para saber o que era uma papinha vermelho escuro que estava dentro de um depósito branco e ele disse que era "o juízo do boi"... Visto o juízo, fui atrás do resto, vi de bucho a testículo. Os feirantes não desperdiçam nada.

Tive dificuldade de anotar todas as informações que gostaria porque quando eu os feirantes me viam mudavam de atitude achando que eu era turista... Teve uma mulher que perguntou se eu era argentina. Assim fica difícil!
Depois da feira, fomos almoçar e voltamos para o Barracão. Todo mundo contando o que tinha visto de interessante. E todo mundo ditado no tablado pedindo cama. Descansamos um tempinho e de repente chega Marco puxando todo mundo pra começar o trabalho - detalhe que depois do almoço ele tinha dito que estava "pregado" e do nada aparece cheio de energia. E lá fomos nós jogar vilão. Em dois tempos todo mundo estava pronto pra outra feira. E assim fomos para a música que aprendemos ontem "ÉÉÉÉÉ A Farsa da Boa Preguiça"... e depois começamos a trabalhar a cena do prólogo. César como Manoel Carpinteiro, Maisa como Miguel Arcanjo e Netto como Simão Pedro. Com três cases improvisamos o cenário. No meio e em cima do case mais alto César, o ator mais alto. A sua esquerda, Maisa; e a sua direita, Netto. Os pobres mortais ficaram no chão mesmo fazendo os camelôs que disputavam os personagens a medida em que Manoel Carpinteiro ia apresentando. Foi maravilhoso!!! Pela primeira vez vimos nosso feto. Depois de uma semana de trabalho, montar uma cena é concretizar toda a dedicação que tivemos ao espetáculo. É lindo ver que todo mundo está por inteiro no trabalho, com o foco para a construção e concretização de um objetivo.

Ter dois grupos de teatro juntos, estabelecer uma rotina de trabalho, com pessoas que pensam diferente e estão acostumadas com uma rotina diferente é realmente um grande desafio. E ver que tudo isso está se encaminhando e todos estão dando o seu melhor, é a prova de que estamos no caminho certo.

Paramos os trabalhos para fazer a avaliação da semana. Marco diz que sempre teve um desejo de dirigir musicalmente um novo grupo; Chris fala que gosta de trabalhar com imersão e que a vivência coletiva acelera o processo de montagem. Ela ressalta que o feirante quer vender a qualquer custo porque é daquela venda que ele sobrevive e isso faltou nos nosso workshops. 
Suellen fala que essa semana foi uma overdose e que todos estavam muito focados.
Talvez por isso o resultado dessa semana tenha superado as expectativas.

Fernando diz que começamos a tirar o material da gaveta e a partir de agora o desafio é como equilibrar a continuidade da pesquisa com a atividade pragmática de montar a cena.
O canal de comunicação entre os três diretores está fluindo. E lembra da nossa conquista de ter um dia-a dia como temos. Acho que isso é uma informação que passa despercebida quando estamos num processo como esse. E ela deve ser lembrada sempre porque nossa realidade é bem diferente da realidade de muitos grupos e somos privilegiados de poder trabalhar no que gostamos e nos dedicarmos a isso.

Por ultimo, gostaria de deixar registrado que César brilhantemente me encheu o saco durante toda a avaliação do dia porque ele era o ultimo a falar e porque todos estavam fazendo uma avaliação da semana inteira...

Camille Carvalho

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