quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Avançar e Escutar

Hoje, dia 09 de Dezembro, exatamente quarta-feira. Uma tarde ensolarada em Natal, especificamente 14h, os grupos Clowns de Shakespeare e Ser Tão Teatro se encontram no Barracão dos Clowns para o quarto dia de trabalho.

E as palavras do dia foram: AVANÇAR e ESCUTAR

Aiiii, quanto trabalho!

Começamos limpando o espaço, um ritual já inserido nos Clowns e definitivamente muito significante para um início do trabalho. Em seguida todos no tablado preparando os corpinhos com alongamento individual para o aquecimento com Thardelly, no qual foi importante para acordar o corpo, manter ele em estado de alerta para os próximos exercícios. Depois quem nos pegou foi a Chris, que ligou o aquecimento do Thardelly com o seu trabalho na formação de imagens com a introversão e extroversão. Ressaltando que todos os exercícios buscam sempre a relação com o espaço e com o outro. Juntamente com isso fizemos um trabalho que uma parte do corpo direcionava o andar, o que é muito interessante, pois mostra além das possibilidades do simples caminhar que conhecemos. Todos esses pontos no trabalho conduzido pela Chris levaram para o desenvolvimento corporal dos personagens Clarabela e Joaquim Simão. Mas, não era uma criação simples, e sim, usando uma parte do corpo extrovertida e introvertida, pensando em todas as características que já levantamos nesses dias de trabalho. Com o corpo, veio também à voz e depois um objeto para que pudesse ser utilizado de várias maneiras possíveis. Fizemos o corpo do personagem e depois a projeção da parte do corpo daquela personagem e também a oposição dessa projeção. Cada um criou uma Clarabela e um Joaquim Simão com sua particularidade, ainda mais com o manuseio de um objeto imaginário, e cada um mais estranho que o outro nas suas funcionalidades.

Tínhamos várias Clarabelas e Joaquim Simãos, e partimos para a improvisação, primeiro andando pelo espaço e ao comando da Chris existia o encontro dos dois personagens, não necessariamente o casal, utilizando do grammelot e do corpo. Passamos depois para a divisão das Clarabelas e dos Joaquim Simãos, as damas para um lado do espaço e os cavalheiros do outro, e o jogo foi o seguinte, o encontro de um Joaquim Simão com uma Clarabela, mas esse encontro se firmava por um olhar, na qual se concretizava quando se ia para o centro e começava a improvisação apenas com o corpo e grammelot e depois o grammelot trocado pela voz. Este exercício para mim é interessante, pois você pode sentir e passar por todos os corpos dos personagens e desenvolver as formas de relação com eles a partir da criação corporal.
O próximo trabalho do dia, também com a Chris foi a criação de imagens, a formação de um quadro, aonde cada um vai preenchendo aquela imagem-situação. O Gestalt: “imagens sobrepostas”, que é a capacidade de visualização dos acontecimentos das cenas a partir de imagens arquetípicas. Trabalhamos então o primeiro ato, criando as imagens que simbolizavam para nós aquela cena, e após improvisávamos daquela imagem de forma ainda muito solta o que acontecia na cena. Nesse exercício existiram coisas que funcionaram e outras que não, podendo enxergar também como está a nossa compreensão do texto. Nesse trabalho Fernando notou que sempre a montagem das imagens estava sendo formada muito numa linha linear frontal, então com a relação à rua é necessário soltar esses corpos no espaço e deixar um pouco a timidez de lado.

O próximo a tomar conta de nós foi o Marco, e já começamos a cantar um cânone “Donna Nobis”, trabalhando a escuta e sempre buscando o timbre desse grupo que está trabalhando junto pela primeira vez. Depois foi para o exercício de pulso, dividindo o tempo em 4, 3 e 2 tempos, assim: fazendo dois quadrados e batendo palma sempre no primeiro, depois fazendo também dois triângulos e batendo palma no primeiro e pra finalizar bonito, fazendo linha e também batendo a mão no primeiro. Foi feito três grupos com três pessoas, onde iniciamos juntos, mas depois fizemos um cânone com a divisão do tempo, e quando nos sentimos seguros, cada um teve espaço de ir ao meio e improvisar livremente com sons dentro daquela pulsação, e lembrando sempre o olhar para fora e os ouvidos mais que abertos. Voltamos para a nossa pulsação divida nesses três tempos, fazendo os quadrados, triângulos e linhas e ainda cantando a “Donna Nobis”, foi lindo!

Em seguida fomos cantar nosso baião “Eu vou mostrar pra você, vou...” com toda nossa disposição, ouvidos, olhos e boca, nunca esquecendo que também tem que mostrar os dentes, isto é, A R T I C U L A R. Aqui eu já estava mesmo sem ar, não sabia mais onde tirar ar para cantar, a verdade é, o Ser Tão em relação a musica ainda tem um caminho bem longo para percorrer, mas ainda bem que surgiu o Santo Marco em nossas vidas.

E partimos para mostrar nossas musiquinhas do texto do Joaquim Simão “Oh mulher, traz meu lençol que estou no banco deitado.” Cada um mostrou a sua, muitas engraçadas, forrozinho, xotizinho, reggae, e umas que eu também não sei dizer o que é, mas eu vi que temos bastante criatividade. É muito boa a música dentro do processo, principalmente que são dois grupos diferentes trabalhando e buscando uma única voz e com o mesmo objetivo. Para a mim a música tem esse papel de trazer esse laço mais forte, integrar todos, colocar todos na mesma altura, volume e pulsação.

E lógico, depois passamos para o texto, pois tem um texto para montar, Fernando conduziu a leitura do primeiro ato, já com os cortes e sempre nós, atores, buscando explorar as possibilidades vocais paras as personagens. Lemos no tablado andando todo o primeiro ato, depois passamos para um exercício mais especifico que foi a leitura do prólogo. Como o prólogo é constituído por três personagens, foram divididos três grupos para a leitura. Já na cabeça as indicações dos camelôs, dos vendedores de feira e de convencer as pessoas que sua visão é a que está certa. Foi feito a primeira leitura, que foi percebida que o texto estava sendo jogado e não estavam claras as palavras, não havendo então a compreensão daqueles que assistem, então, tivemos as indicações de prestar mais atenção naquilo que estava lendo, mais articulação e o mais importante estamos lendo para as pessoas no meio da RUA. A segunda rodada de leitura dos grupos já foi muito melhor, e na ultima rodado o Marco fez intervenção musical no texto o que ajudou muito na visualização das imagens das palavras que estavam sendo lidas. Este trabalho é maravilhoso, não tem nada melhor do que ler e fazer um texto que você tem mesmo a compreensão daquilo que você quer falar para o outro.

E assim, acabou mais um dia de trabalho intenso, gostoso e produtivo.

E que venha amanhã, depois de amanhã, e assim sem fim...

Evoé!

Suellen Brito

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