sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

ÉÉéé... A Farsa da Boa Preguiçaaaa



Barracão dos Clowns, 11 de dezembro de 2009, pouco mais de duas horas da tarde: ao som do “forrozão” do lava-jato que fica colado no Barracão, esperamos Maisa e Suellen que tiveram que ir com urgência a João Pessoa.


Diferente dos outros dias, Natal estava nublado e o clima mais ameno. Netto se agarrou com a sanfona e se pôs a treinar sua valsinha, enquanto Camille estava à mesa “entertida” na leitura da peça. O som fica mais alto ai(iiii)nda e se junta ao ruído ensurdecedor do aspirador de pó e da água que se choca contra a lataria dos carros sendo lavados no vizinho. É o jeito nos acostumarmos...

Assim que Netto largou a sanfona, eu corro para fazer a minha tentativa, entretanto, poucos minutos depois, César me entrega a zabumba, pega a sanfona, o Thardelly se chega com o triângulo e o Netto vem marcando a pulsação com o caxixi: montamos uma banda! Tá... A verdade é que nos divertimos muito no ritmo do baião, do xote e outros ritmos inventados.

As meninas chegam no instante em que iniciamos com o nosso ritual de todo dia: varrer o espaço de trabalho, passar o pano no chão onde nos alongamos, suamos, improvisamos e damos asas à nossa imaginação.

Depois da limpeza, em círculo, massageamos o corpo do vizinho para liberar as tensões e jogar para fora as energias negativas. Esse momento relaxante durou pouco, pois logo em seguida a Christina nos pegou e botou nossos corpos em ação utilizando uma bola que passávamos para o outro, primeiro dizendo o nome de quem receberia a bola, na sequência com uma bola imaginária, e por último recebendo a bola e jogando-a alterando o tamanho e o peso da mesma.

O segundo exercício do dia foi o de copiar a forma de andar de outra pessoa. A dinâmica utilizada consistiu na formação de uma fila, em que o primeiro propunha um andar natural e o próximo alterava a maneira, a intenção e o tamanho do movimento para assim distorcê-lo, de maneira que essa distorção deveria ocorrer gradativamente até que o último da fila estivesse no extremo do primeiro. Colocamos ações cotidianas para esse trabalho, que estimula a busca pelo grotesco ou pelo estereótipo a partir de um modelo real.

Retomamos o exercício do dia 09, em que projetávamos uma parte do corpo e mais a oposição desta, adicionando um bicho, para criar uma forma física ao Aderaldo, o ricaço, à Nevinha, a mulher do poeta Joaquim Simão, e à Andreza, um dos demônios que se disfarça de criada no primeiro ato. Brincamos com o corpo dos personagens partindo dessas projeções e escolhemos um objeto para ser manuseado por cada um. A cada experimentação de um personagem, fizemos uma demonstração de um por vez numa diagonal, mostrando aos demais o que foi experimentado e estimulados pela Chris a ir sempre em busca de mais, utilizando a introversão e extroversão, inclusive na máscara facial e criando uma voz a ser articulada em grammelot. Tudo junto! O bom desse exercício é que além de passarmos por todos os personagens da Farsa, podemos “roubar” o que achamos interessante no outro. Essa troca é muito importante também pelo fato de percebermos outros olhares lançados sobre uma mesma figura. Improvisamos com os personagens Aderaldo Catacão, Nevinha e arriscamos uma entrada na Andreza intermediando de cupido de chifres.

Paramos para um breve lanche, afinal, “rapadura é doce mais não é mole, não...”

Na volta, sentamos e conversamos um pouco sobre a peça e sobre os personagens. A Chris trouxe referências de uma atriz que fez o Santo e a Porca, também de Ariano Suassuna, e atentou para a idéia numa só direção que tendemos a ter, num primeiro instante, dos personagens. Fernando complementa essa questão, observando que todas as informações que precisamos, a priori, estão no texto, que devemos conhecer bem o texto, mas ter o cuidado para não nos fecharmos numa ideia ainda.

Passado este momento, a Chris pediu que pegássemos lápis e papel e colocássemos os nomes dos personagens Aderaldo, Andreza, Nevinha, Simão e Clarabela, numa coluna vertical e na horizontal, que bicho esse persongem seria, qual pecado capital ele teria, que objeto ele seria, que comida, que cheiro e qual elemento ele seria. Ao final das respostas, todas num tempo super rápido, fomos destrinchando cada um dos itens das colunas dos personagens. Foi uma zona! Das respostas mais esclarecedoras e interessantes às coisas mais bizarras ditas e defendidas com toda a dignidade do mundo, aconteceram nesse momento de troca de impressões. Destacam-se nas pérolas os pecados capitais secundários (sim, eles existem!) pesquisados pelo Netto que foram o ouro da brincadeira. Brincadeiras à parte, descobrimos ou apontamos possibilidades do que esses personagens poderiam vir a ser e vender e o mais importante, segundo a Chris, era percebermos o elemento que cada um deles representa. Definimos que o Aderaldo é terra, por sua ligação com o terreno, com o material, a Nevinha é água, por sua intermediação com a terra e o ar, que é Simão, o sonhador. Já a Clarabela e Andreza são fogo!

Antes de nos levantarmos, o Fernando fez alguns apontamentos sobre o direcionamento do laboratório de observação que acontecerá amanhã na Feira do Alecrim, aqui em Natal. Um deles é a atenção na prosódia usada na feira na venda dos produtos, além disso, focar em duas figuras e atentar para aspectos físicos referentes à respiração, ao deslocamento, ao olhar, à pulsação e às ações desses vendedores, assim como na estratégia que cada um emprega para atrair a atenção dos clientes.

Assim, fechamos nossos cadernos e levantamos para cantar a primeira música da peça composta pelo Marco França. Oba! Olhos brilharam e bocas se arreganharam para lançar no espaço as palavras que falam sobre “A história do rico que virou pobre/ Que ficou mais rico ainda e foi pro inferno viver ao lado do cão/ E do pobre, do pobre que virou rico/ Que ficou pobre de novo (...)”. Que beleza! A música ficou linda, apesar do canto atravessado e ansioso, dava pra ver nos olhos de todos a alegria de um trabalho que já está começando a rumar para algum lugar...

Para fechar o dia, aqui na casa onde o Ser Tão está hospedado, o maravilhoso cozinheiro Miro, uma figura muito massa, preparou um peixe no molho de cajá e uma sobremesa de banana de lamber os beiços. Assistimos na madruga, eu, Chris e Netto, o documentário de um dos grupos de teatro mais importantes do Brasil, o Grupo Galpão, de Minas Gerais. Que beleza!


Isadora Feitosa

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