terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Terceiro dia

Terça-feira, terceiro dia de trabalho. Renata Mora e Augusta retornaram para JP dando continuidade a produção por lá. Nós iniciamos indo direto ao tablado. Limpamos e em seguida cada um foi alongando individualmente. Chris conduziu energicamente este momento. Partindo do rosto, descendo pelo corpo até tomá-lo por completo, fomos trabalhando a introversão e a extroversão, onde variava as partes em extro e intro a partir do comando de um toque no pandeiro. A cada batida, alternava-se o movimento, sem esquecer a relação com o espaço e com as pessoas. Pensando sempre que o movimento parte da coluna.
Voltando a caminhar livremente, sempre pisando com o calcanhar, passou-se o comando de que na batida, deve-se estabelecer relação com um parceiro onde o jogo é um estar extrovertido e o outro introvertido. Zerava o movimento, caminhava e a partir de outra batida estabelecia-se uma nova relação. Chris chamou nossa atenção para uma proposição feita pelo Neto e Thardelly, onde podíamos observar corpos estabelecendo conflito a partir do jogo da intro e extroversão.
O jogo agora é: imaginem um objeto. Com este objeto cada um foi brincando, mostrando para os outros. No comando, cada um encontra um parceiro e mostra o seu objeto, tenta seduzi-lo, vender. E sentindo-se atraído pelo novo, fazia-se a troca. Fizemos umas três trocas. Comecei com um leque e terminei com um chiclete e vi as bolinhas de malabarismo que peguei no meio da história transformando-se em um sutiã. Agora cada um ia ao centro da roda e tentava vender o seu, dando uma de vendedor mesmo. Vendedor de rua, de feira.
Chris coloca uma caixa no centro e nos estimula a querer vender o que está ali como algo maravilhoso em que não se pode perder a oportunidade da compra. Em seguida ela joga pra situação uns lençóis, como elementos para nos ajudar na improvisação e inclusive comenta depois que sente falta de elementos para brincar e nos pede para trazer objetos.
A improvisação ruma para uma grande feira onde todos estão vendendo algo que leve ao espetáculo que será encenado naquele local. Por muitas vezes o caos foi grande, faltou nos escutarmos mais, perceber as proposições. Mas surgiam momentos interessantes de fazer e acho de se ver também. É muito bom sentir a energia de Chris puxando o trabalho.

Na pausa para água vimos um pequeno vídeo do youtube do homem da cobra. Um feirante que trás em três caixas, cobras. E fica mostrando as cobras para todos, atraindo a sua atenção, mas que na verdade ele ta ali pra vender pomadas. As cobras são iscas para atiçar a curiosidade do ser humano.
Fernando aproveita o momento e nos pede uma tarefa para quinta-feira: fazer uma cena de um vendedor de feira vendendo coisas convencionais ou abstratas. Pensar em que figura é essa, no que ele vende, como vende, a estrutura em que carrega os produtos.
Voltamos pra mesa e Fernando faz uma breve leitura do livro O ator invisível de Yoshi Oida, sobre a limpeza do espaço, para que todos tenham o entendimento da limpeza inicial que realizamos todos os dias. Tivemos informalmente mais uma aula da Chris, onde ela pontua diversas questões do trabalho do ator a partir do exercício que fizemos. Nos mostra figuras de um livro sobre a Commedia dell’arte em inglês, onde em uma feira medieval vemos corpos com movimentos em intro e extroversão. Nos fala da consciência do corpo, do movimento vir da coluna e das ancas (quadril), de estar em desequilíbrio e atento para o outro. Cita a biomecânica como ferramenta de pesquisa, onde se estuda o movimento a partir dos animais. Onde a ação física é uma das partes de que o ator deve estudar.
Chris fala que estamos no momento de experimentar, se integrar, onde tudo pode ser feito e jogado fora sem pudor. E que depois partiremos para o momento do pensamento concreto, o definido.
Ela pontua que no exercício todos jogaram bem com o corpo, porém na hora em que a palavra entrou, o corpo parou. Eis um desafio: manter este corpo vivo, interessante e comunicativo, mesmo quando o verbo existir.
O que importa é o que estes vendedores estão fazendo e não sentindo.
Cita o uso da máscara neutra e meia máscara, onde falamos um pouco da experiência com Maria Taís.
Finaliza este momento pedindo para que cada um traga um objeto para amanhã e Fernando propõe que seja parte da cena do dia seguinte.

É dado um breve intervalo para um lanche, onde alguns aproveitam para brincar com alguns instrumentos: Marco e Neto com a sanfona e violão. César com as meninas do Sertão compartilha a sua sanfona.
De volta ao tablado, Marco agora conduz o trabalho. Distribui pelo espaço diversos instrumentos e pede para que caminhemos observando os objetos com o cuidado para não pisar neles. Buscar a relação com o espaço, com os objetos, com as pessoas. E nessa caminhada ir sentindo o som de cada objeto sem tocá-lo. Em seguida Marco ia conduzindo executando e não mais verbalizando o comando. Começou-se a fazer no corpo o som que supostamente imaginamos que aquele instrumento faz e a movimentar-se como ele. Naturalmente o gromelô foi surgindo, vindo inicialmente dos atores do Sertão (percebo que é uma prática mais trabalhada neles do que nos atores dos Clowns), porém todos na medida do jogo foram participando.
Percebi meu corpo modificado, as vezes ao ponto de doer. A extroversão, introversão, o jogar em duplas, o jogo de ouvir. Por muitas vezes a ansiedade tomou conta da situação e o jogo não acontecia.
Avaliando, devemos pensar mais em ouvir do que falar, perceber o todo. Não perder o foco da escuta. Este foi um primeiro exercício de aproximação aos instrumentos musicais. Exercício que chamamos de Balai, criado no processo de montagem do Capitão. Nesse caso em que Marco além de ser o condutor enquanto diretor musical ele é também ator do processo, é percebe-se o quanto é tênue este equilíbrio.
É perceptível como as informações dadas e trabalhadas durante todo o dia vão se somando para cada ator e sendo expostas nas suas proposições. O grupo começa a ganhar uniformidade.
No final Marco pede um dever de casa para o dia seguinte: trazer uma proposta melódica para a frase do Simão – “O mulher traz um lençol que eu estou no banco deitado”.
Para finalizar fizemos uma leitura do primeiro ato com cortes propostos por Fernando. Ele nos pede que nessa leitura foquemos na questão da prosódia, atentar para possíveis falas que sentimos falta, que comprometem o entendimento do texto ou que ainda devam ser cortadas.
Em uma breve avaliação, todos demonstram que os cortes sugeridos estão mantendo o entendimento e que reduziu bem o texto.
Texto “novo” pra ser lido e trabalhado em casa por todos. Mais um dia é finalizado com muito trabalho e principalmente disposição.

Renata Kaiser.

0 Comentários:

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial